segunda-feira, dezembro 13, 2010

Faça seu próprio título

Embora estejamos contidos numa sociedade que uma boa parte dela – ainda não considerável – esteja ciente de sua incapacidade, enquanto parte ativa e vívida de uma democracia, não há solução ou salvação imediata, uma vez que pautamos em um coletivo de vertentes que de certa forma nos encaixamos, ou questionamos sem ter noção de como fazê-lo. Ou ainda, nos indignamos, mas nos abstemos, por acreditar que não há, em qualquer que seja hipótese, uma forma de reagir e coibir que o “sistema” nos faça refém de nós mesmos.

Sendo assim, torna-se mais simpático, ou ao menos tolerável, administrar essa culpa a outrem, é claro que não precisa ser ninguém extremamente apto a tomar decisões ou a “fazer a diferença”, de fato. Nem com suma capacidade de problematizar o que nos atormenta. Maiormente, se livrar do encargo é estar quitado com suas obrigações de ser humano, um ser contente na medida das suas limitações adquiridas no decorrer da vida, por acreditar na demagogia baixa da “consciência limpa”.

Acho interessante ressalvar que eu, como tantos outros, deixei de acreditar; ainda que passe todo o decorrer da minha vida expondo essa veia apelativa e ao mesmo tempo inútil. Sou quase que obrigada a assistir via televisiva, excelentíssimo presidente da república declarar que a sua eleição, tão como a eleição da candidata Dilma, rompe com um preconceito (preconceito?). Venho, a fim desta afirmação no mínimo lastimosa, fazer das palavras do colunista Reinaldo Azevedo, as minhas: “Ora, então a eventual derrota de ambos teria significado o contrário. Logo, a única maneira de a gente demonstrar que ama o Brasil unido é alinhando-se com o PT.” Por alguns momentos sinto falta das oligarquias declaradas dos cafeicultores e dos (perfeitamente explícitos) currais eleitorais espalhados. Ainda por Reinaldo, “… Quem inventou esse país cindido tem um projeto político e dele extrai os melhores resultados para si e para o seu grupo (…)”. Ou não compreendo mais as definições, ou o Lulismo deu a elas um novo sentido. Assim, como que assistencialismo virou “bem-estar-social” e “distribuição de renda”. Que fique claro que não estou aqui para defender algum outro partido, só acredito ser desinteressante para o país manter 20 anos (tempo necessário para formar uma geração) o PT no poder.

O presidente ainda acredita e declara exalando felicidade que o ENEM foi um sucesso e para ele todo pensamento que se diga oposto se resume no bordão dos inculpáveis: “intriga da oposição”. Não existe sequer um problema, não existe espaço qualquer para falhas, o que há, segundo aquele senhor, é uma “perseguiçãozinha” sem fundamento pela qual as crises, supostamente, se determinam. Outro exemplo, ainda nas concepções minimalistas do excelentíssimo: é necessário haver uma revisão do TCU (Tribunal de Contas da União)! Diminuir a fiscalização, talvez? Não, o problema do Lula não é com tudo que pode o fiscalizar, o problema dele é mesmo com a democracia, nossa gloriosa democracia, obviamente.

Definitivamente, não sei o que é política, não sei como discutir política e, para ajudar, sou extremamente teimosa com esse assunto. Tive a agonia em acompanhar partidos tradicionais, confundirem as suas tradições com ortodoxia. De um lado a direita falida e do outro a esquerda progressista? Ou de um lado, o sucesso capitalista e do outro o radical, utópico e antiquado esquerdismo? Mesmo que se dissemine, vagarosamente, essa dicotomia, os prezados candidatos não deixarão de ser obsoletos. Presenciei campanhas completamente detestáveis. Vi ideologias abortadas que se consideram incorruptíveis.

De maneira evidente, comento da presidência da república, visto que de deputado para baixo, convenhamos, não há muito o que se discutir, não há o que argumentar. É o fiasco político do Brasil, é um período que se consagrará na história muito pela vergonha. Brasileiro não é de levar eleição a sério, mas agora, como colaboração, são os candidatos que resolveram brincar e tudo se tornou uma piada qualquer, muito ruim, por sinal.

No segundo turno, ninguém sabia, pelo menos eu, em qual marqueteiro votar. Não sabia qual publicitário merecia ser eleito, o Tucano ou o Petista? Muito embora, ambos tenham tido seus respectivos fracassos, ainda que João Santana tenha sido eleito outra vez – será que não fazem mais publicitário como o grande “mensaleiro” Duda Mendonça? Às vezes cultivo minhas dúvidas se aquele dedo foi mesmo cortado acidentalmente na metalúrgica, em1963, ou em 2002, para dramatizar e enfatizar ainda mais a campanha do “pobre que venceu!” e que estava ali, disposto a governar “pelo povo”. Mas que povo? Ah, o povo que tem fome. Aliás, a própria Fome, já que está mais que comprovado que barriga vota e elege. Sem querer depreciar as necessidades de ninguém, “reducionismo político” deixamos para o Pernambucano sindicalista, tão pouco evocar regionalismo estúpido que parte da mídia compra da (suposta!) “esquerda governamental” e revende desnorteadamente.

A crise continua se perpetuando e se consagrando, mas eu te juro que tenho algum resto de esperanças. Existe uma possibilidade (muito) mínima de reação. Um dia, eu acredito, a internet será utilizada com outros propósitos que não os frívolos de hoje. Ela é, entre as ferramentas existentes, a que consegue ser mais eficaz devido à liberdade e amplitude que pode tomar. Se unirmos internet, conteúdo e gente inteligente, é possível fazer alguma coisa, dá para difundir o embrião do que poderá vir a ser a verdadeira “diferença”. Mas é claro, é a próxima geração que vai se encarregar disso, a minha tem “problemas de consumo” mais importantes para resolver. Até lá, fico na mesma lástima de toda eleição.
Por Talita

sexta-feira, dezembro 10, 2010

Frase solta

Cantava a noite clara sem saber do que se tratava.

sábado, novembro 27, 2010

Precisa-se de título, e várias outras coisas.

É engraçado, eu sempre tô me arrependendo de algo (talvez eu não saiba o que é se arrepender de fato, mas vamos considerar algo próximo a isso). Talvez ontem eu estivesse mais “inspirada” para escrever esse texto que vai seguindo, mas é sempre assim: arrependimentos por não ter escrito ou por ter escrito demais.

Estive pensando no começo de tudo e se é tão genérico para as demais pessoas quanto é para mim. Soa, quase (quase!), como uma hipócrita valsa clássica. Tudo parece milimetricamente ensaiado, os casais que se ajustam, a luz que está perfeita, há sempre sorrisos comprados e estampados no rosto com afinco. Aí então, o objeto de desejo aparece num banquete, rodeado de todas as coisas as quais você nunca pensou em admitir que gostaria, um pacote com doses quadruplicadas de um ópio extremamente venoso, encoberto de amor e excitação. Depois de degustar da tal droga, você, simplesmente, cai o nível. A culpa não é sua, mas você não acreditaria em mim. Porta-se como um rato sujo a contemplar sua abstinência, põe-se a enlouquecer se não tiver novamente aquela droga, ao ponto de autodestruir e, por pouco, destruir o traficante que lhe ofereceu a libertinagem do vício, traficante o qual recusa-se – sem você saber o porquê – de lhe dar qualquer bocadinho de tudo novamente. E poxa, que grande merda, o pior é pensar que ele te vendia aquela droga a troco de nada.

No próximo quadro, aí está você: magro, tremendo e clamando por aquelas sensações novamente. Vendendo a mãe se for preciso, só pra provar daquilo uma última vez. Então, a droga e o traficante te evita. Te trata como se não a conhecesse, com o descaso que tem por um cachorro de rua. E sabe de onde vem o grande problema? A estrondosa ironia? É que você, no ápice de nada e qualquer coisa, não pode sequer mais culpá-lo.

Numa olhadela diante do espelho você nota que está composto somente por uma caixa de ossos, ao ponto de não ser possível se reconhecer. Eis a canção derradeira do show de toda essa paixão discordante. A sublime desvalorização de si próprio.

Anyway, dizem que é coisa que acontece. Num caso mais promissor de alguma paixão babaca, acontece de se apaixonarem aos 20, casarem-se, separam-se aos 30 e descobrem que nunca pertenceram de alma àquilo.

quarta-feira, novembro 03, 2010

À minha pretinha favorita

Apanhe e permaneça com a minha sandália salto agulha de Poá para você. Ainda que não sirva, creio que vá gostar. Também aquele vestido preto que tanto gosta. Tenha cuidado com as minhas maquiagens e livros. Sobre os livros, leia quantos puder e pegue para ti quais tiver anseio, não se esquecendo de devolver os que não forem meus. Arquive minhas músicas e não narre os meus segredos. Não deixe que me transformem em santa, conte, de fato, o que fui. Conte a quem achar que deva das minhas dores e dos meus amores, dos meus acertos, não se esquecendo dos erros, que foram muitos.

Irá encontrar uma pasta com textos manuscritos, transcreva-os aqui e diga a quem foram destinados. Conserve meus conselhos e pegue de volta a “nossa” saia-da-perdição.

Pondere à tua mãe que eu não fui tão ruim assim. E diga ao Bê que ele não terá mais que latir a mim. Lembre-se de guardar com cuidado minhas coisas de infância, coloque Maria Rita para ouvir.

Continue tomando o remédinho da TPM, assim não irá incomodar – tanto – a ninguém. Não mais te apaziguarei, pretinha.

Devolva umas cartas a quem se tem que devolver. Se eu as tiver ainda, desative minhas redes sociais. Tenho também uns moletons que não são meus, pergunte se querem de volta. Seja cuidadosa com a Susan e com a minha coleção de fotos 3x4.

Irá achar uma pasta com históricos à parte, organizados por mês e ano (não reclame da minha organização, como de costume). Abrange bastante coisa, eu sei. Entretanto, imprima-os. Entregue a quem pertença.

Vá aos shows que eu também iria, não seja tão avessa ao samba e ao sertanejo. Precisará disso pra se socializar um pouco melhor. Não fique chorando por aí mostrando suas fraquezas, não me usará mais como escudo.

Experimente todos os tipos de tequila que puder. Não se contente com aquela que a gente conhece. Irá prometer que nunca mais colocará uma gota d’álcool na boca a cada porre que tiver. É sempre uma mentira, acredite. Crie seus laços de confiança, esses cuidarão de você em fins de festas.

Reúna meus textos e monte um livro. Mais pela prepotência de possuí-lo. Faça poucos exemplares e distribua só a quem for próximo e interessar. Se fizer sucesso, posso até lhe ser rentável.

Guarde nossas lembranças, nossos olhares. Diga àquela que deve perder alguns quilinhos e limpe o veneno dos cantos da boca ao fazê-lo. Ria de nossas birras e briguinhas de mentira. Não se achegue em pessoas mais irresponsáveis que você. Você é vendida, lembra?

Não se veja imersa em tudo isso e só retome o que não lhe pesar.

Por Talita

quinta-feira, outubro 21, 2010

Pois, é. É, pois.

Eu tenho precisado mais do que você imagina de você. E, como todas as outras vezes, não sei discorrer sobre o assunto. Sei mesmo é que eu tenho andado de forma estranha, feito coisas que eu não costumava fazer. Esses dias eu comi patê de alho, e eu nem gosto de patê, quanto mais de alho. Troquei a orgia mental que a tequila me oferece, pela minha cama – sozinha. Rejeitei meu velho caso. Chorei por uns filmes e por um suco de laranja. Estive com preguiça da parte carnal da coisa. Mais agradável que sedutora.

Ouvi meu samba para relaxar e sambei sozinha no tapete da sala. Cantei baixinho atrás da porta, tive dó do meu travesseiro e o filme que a gente fez trouxe o choro numa dessas vezes que falei contigo. Logo por ti, o motivo do meu desassossego por meus longos instantes.

Durmo pouco, como muito. Preferindo ficar quieta e olhando às imagens insossas da televisão. Não sei terminar meus textos.

Por mim

sexta-feira, setembro 24, 2010

Clarice

Sou tida como grossa, porque minha voz não é macia ao pedir algo. Sou pacata, porque não grito enquanto discuto algum assunto. Sou retrógrada, porque não ouço Justin Bieber e, sim, Raul Seixas. Não sou classe média porque não tenho aquela super-bolsa do macaquinho nomeado, só o estojo. Não sou inteligente, porque não sei lidar com números. Sou alternativa, porque gosto de discutir crises existenciais. Sou fútil porque faço as unhas periodicamente e me maquio para ir ao colégio. Sou mulher-macho porque não gosto de rosa. Sou fresca porque não como em qualquer lugar. Sou metida á intelectual porque tenho X palavras a mais no meu vocabulário. Sou puta por conversar com meninos. Sou chata por não rir das piadas infantis da turma do fundo direito. Sou gorda por não me exercitar frequentemente. Ignorante, por ser sincera. Intolerante, por não engolir mentiras. Sem coração por não manter relações insustentáveis. Mentirosa, por admitir que opiniões mudem. Egoísta e individualista por gostar mais de mim. Arrogante, por defender minhas teses. Orgulhosa, por não ficar me entregando por aí. Não sou ciumenta, por ser segura. Não sou atenciosa por não ser ciumenta. Sou moleque porque gosto de futebol. Preguiçosa, porque durmo na minha única tarde livre. Má filha por não ir à igreja e não me drogar – porque se eu me drogasse eu seria a “tadinha, ela tem problemas com drogas”. Sou revoltada por não ser hipócrita. Pessimista, por não estar de acordo com “acasos”. Sou teimosa por não concordar com você. Sou como você me vê.

Por Talita

quarta-feira, setembro 22, 2010

Setembrite

Chega setembro e você quase nem sabe mais o que está acontecendo. Essa, definitivamente, é a época mais cansada do ano. Terceiros colegiais e suas inscrições, cursinhos e suas desistências. Alguns nem assimilam mais todos aqueles símbolos no quadro – muito – negro: “raízes”, “x”, “números imaginários”, “V”, “F”.

A penúltima apostila está mais rabiscada que porta de banheiro público. No inicio, eram contas, moléculas, observações importantes. Hoje, pode ser o que quiser, desde desenhos, rabiscos sem sentido, “testes-de-caneta”, “sono”. Tudo isso por contemplarmos a “setembrite”. A partir dessa, a “vergonha na cara” desaparece e você começa a dormir com mais freqüência, e não é nem aquele sono especialmente matinal, típico de primeiras aulas; o problema consiste na primeira aula, na segunda, na anterior ao almoço – porque você está com fome –, na pós-almoço, porque comeu demais, na última, porque é a última, claro.

Os salgados da cantina já enjoaram e a tia, se for intrometida como a minha, entre um doce e outro, já começa a te dar sermão, estimular seu peso na consciência e a pressão (que quase não existe, bobagem minha).

E aí, em meio a tantas inscrições e ameaças sobre você não ser aprovado diante de todo aquele gasto, você até perde aquele coragem pra pedir as “carolinas” para o fim da tarde à sua mãe. Aliás, você quase não pede mais nada a ela.

O ato de acordar vira um ritual e segue os seguintes hábitos: na segunda, você acorda pensando na sexta, ou no sábado – caso suas aulas se estendam pelos seis dias. A título de consolo, nos demais dias, se o sono prevalecer insuportável, você acorda pensando na última aula, ou ainda, naquele dia chave que acontece de sair mais cedo.

Com algumas pessoas acontece de saírem menos. Já aqueles que mantêm cursos, atividades físicas recém começadas, nem se lembram mais do que é isso. Hábitos religiosos só são nutridos caso precise de nota, ou esteja caminhando para o terceiro, ou mais, anos de cursinho.

Se por algum acaso houver movimentação livre no seu recinto educacional, inicia-se a busca por companhia pra tomar um café, bater um papo, ver a rua. Do contrário, idas ao banheiro acabam por ser mais comuns e demoradas. Vai lá, já anda mais devagar, pensando na vida, às vezes encontra um ou outro na mesma situação que você, pergunta do futebol pro inspetor, que de tão cansado também, nem se recorda de ser tão chato.

Mas, não tem o que fazer. De qualquer forma, é setembro.

Por Talita

terça-feira, agosto 31, 2010

Para vocês

Com você, eu me esqueci do significado da palavra cautela, talvez pela contagem regressiva que se fez presente. Vivi tão intensamente cada encontro, que ri e chorei na mesma proporção da minha paixão acolhida por seus braços, os quais continuam, com perfeição, me abraçando forte.

Já com você, retomei todos os meus cuidados, enquanto você se perguntava o porquê de tantos muros. Não foi tão intenso quanto o outro, confesso. Mas não que isso tenha sido ruim, muito pelo contrário, tive o prazer do costume e da segurança não desfrutada anteriormente.

Você, amor, que não me ensinou sobre segurança, apresentou todos os prazeres das sintonias. Tive sua presença por tão perto, que durante várias noites eu ainda sentia seu corpo caloroso envolto pelo meu. Fez de muitas músicas perfeitamente tuas, tanto que, hoje, sinto um sério constrangimento em te olhar nos olhos e ouvir alguma delas; faz-se um sorriso amarelo inevitável e, como bem sabe, não gosto que o perceba. Perto de ti eu sou forte – ou tento parecer – e estranha. Só me esqueço de prevalecer tais características quando passo meus infinitos segundos olhando pros teus olhos. Desses que sei exatamente sobre os “risquinhos” castanhos acinzentados perdidos do castanho escuro misterioso. Sei também dos “vasinhos” e da curvatura exata de seus cílios fartos. Sem contar que tenho até hoje a simetria de sua face em minhas mãos, trancafiada junto do meu porta-lembranças para nunca mais dizer adeus.

Por você, anjo, responsável pelos meus prazeres, nunca quis tanto me preparar. Nutri um desejo de melhora incrível – no exato sentido de não crer. Quis estar à sua proporção e cultivar uma constante. E eu estive, anjo, não pelo tempo que você gostaria, mas estive. Você foi minha segunda tentativa de “sempre”, com quem eu planejei, me assegurei, sonhei e mudei vários de meus planos. Mas saí de minhas raízes e o resto que se prendia a elas, ficou fraco demais. Não tive o alicerce, ou não o recebi de forma adequada e satisfatória para nós dois. Foi aí que me perdi em meio de suas atitudes inseguras e sem orgulho. Tão entregue que eu nem sabia mais o que fazer com tudo aquilo. Fomos ficando cada vez mais diferentes durante a minha volta à frieza e calculismo de sempre, e você precisando cada vez menos disso.

De você, amor, senti falta de toda sua arrogância, a qual, para mim, era charme, de toda sua prepotência que me fazia segura, de seu orgulho destruindo o meu, de suas amigas - talvez sem plural -, que me ponderaram os ciúmes, de sua ida me renascendo o anseio de volta.

Já de você, anjo, senti falta de ter importância a partir do momento em que te deixei ir. Também de sua dependência camuflada e sobreposta de afeto infantil (não entenda mal o “infantil”). Fez despertar todos os desejos carnais, embora não tenhamos tido tempo o suficiente para realizá-los. Te quis, por todo nosso tempo, junto de mim e, talvez assim, tivéssemos nos entendido melhor, proporcionando, assim, consertar nossas falhas de maneira mais adulta.

Com você, amor, eu nem me lembro de como te esqueci. E caso esteja me acompanhando, saberá o raciocínio e lógica da situação. Não deixarei pistas, você nunca aparentou precisar, sendo uma das coisas que sempre me encantou.

Com você, anjo, eu nem sei como terminar e me despedir. Um infortúnio, eu sei. Considere, porém, todas as minhas desculpas.

Por elas

sexta-feira, agosto 27, 2010

O sucesso da aprovação

Ainda que possa ser visto como só mais um depoimento de uma vestibulanda (próxima de uma pilha de nervos), pode vir a valer a pena opinar sobre o tal assunto só para enfatizar o desabafo ou, puro e simplesmente, escrever.

Veja só a que somos condicionados: lá nos primórdios, fazem questão de nos apresentar letras, números, formas. Resumindo de forma bem precária, apresentam-nos as operações matemáticas, construções lingüísticas. Propõe-nos a desenvolver arte. Passamos, aí, a nos especificar mais. Grade acadêmica aumenta e tentam introduzir coisas biológica, física, química e matematicamente sobre terra, água, ar – e o máximo que puderem. Contam-nos histórias brasileiras, portuguesas, orientais... sem contar o incentivo a pensar no subjetivo, inexistente, o lógico, o mecânico.

Mesmo que no fim das contas (que são muitas) tudo se una de algum modo, esses 200 dias letivos por alguns vários anos consecutivos acabam por ser – ao menos, perante a minha visão – a transa mais miscigenada na vida de um ser.

Entretanto, tudo isso é um preparo para o afunilamento total. Emburrecimento; com todo respeito ao animal e ao dicionário (não sei se a palavra existe); planejado e escolhido meticulosamente. Alguns passam três anos se preparando, outros dois e alguns ainda, dois meses, para as tão esperadas (ênfase, por favor) “provas de conhecimentos gerais”. A prova final de que você, aluno, sem luz pelo latim, adquiriu alguma iluminação no decorrer de seu histórico escolar.

E se, por muito esforço, intervenção divina, sei lá, você passe, prepare-se: voltará a ser um sem-luz qualquer. Agora, com uma diferença, ao invés de amplificar seus horizontes, irá minimizar com vistoso destaque seus conhecimentos arduamente obtidos, os quais serão futuramente esquecidos com o devido esplendor para restar lugar suficiente para os outros lances especializados, a fim de te tirar da frente daqueles holofotes escolares e tornar-te num gigante diante de uma fendazinha de luz universitária que entra pelo buraco da fechadura. Contemple.

Por Talita

De volta.

Recentemente eu me peguei no auge da hipocrisia. Logo eu, no constante ensaio de me policiar desses males. Mas, como qualquer um, falhei por alguns vários instantes, talvez ainda, um pouco mais que isso, embora tenham sido só desses que tive o reconhecimento.

Me auto-repreendi de escrever por aqui, por ficar pensando em quem lerá, ou quem deixará de ler. Nesses tempos, há pessoas que eu gostaria que lessem, e outras, que se o fizesse, parassem. A justificativa disso era a margem larga para desentendimentos, deduções e afins. Não gosto de explicitar, entretanto gostaria que fosse explícito para alguns.

Hoje eu me livrei parcialmente dessa zombaria. E prometo vir com novidades – nem tão novidades assim, confesso. E você, é você mesmo, que se atenha. Um beijo.

Por...
...você sabe.

terça-feira, junho 29, 2010

O show não pode parar

A sociedade se forma através de culturas híbridas e se encontra num estágio elevadíssimo de contaminação proveniente de um mundo imerso em imagem, mesclado de espetáculos de todas as suas origens. Fica clara, assim, a relação direta e inevitável com o sistema vigente, onde felicidade se resume a consumir, tornando a forma mais perversa de ser da sociedade do consumo.

Os acontecimentos retratados como espetáculos poderiam ser listados um a um. O mais recente é o da menina Isabella, o qual movimentou milhares de pessoas – por mais tempo que os demais – destaque vindo da mídia que se disfarça de imparcial e busca o foque de interesse do público. Resultando em todas as proporções presenciadas, desde todos os meios de comunicação de massa falando do mesmo assunto, até a comemoração de pessoas que viajam quilômetros à porta da delegacia a fim de profanarem os suspeitos, jogar pedras e acenar para as câmeras ali presentes ante a resposta do júri ao (já pré-condenado pela sociedade) casal Nardoni.

Com o circo já montado e os palhaços entretendo com afinco o seu público, outros mais assassinatos acontecem, também com crianças, a diferença está na atenção. Uns não chegam a um décimo da platéia, muito menos a um julgamento. E, sem as câmeras, a polícia já não trabalha de forma tão eficaz, advogados não compram ternos novos, a perícia não demonstra tanto profissionalismo e nem é gasto 50 vezes mais para resolver o caso.

E aí, então, é visto o povo se prostrando como seguidor do espetáculo. Esse próprio espetáculo descrito no dicionário como algo que prenda atenção, atrativo, algo a se contemplar e, até mesmo, a representação do ridículo. Evidentemente que um bom espetáculo seguido de um drama mais trágico – ainda que a contemplação termine quando o próximo anúncio no intervalo da novela das 8h começar – gera muito mais repercussão. Ou seja, os políticos continuam em sua corrupção, assassinatos acontecem, estupros, leis sem sentido sendo aprovadas e muitas outras barbáries. Mas, sem a presença das câmeras, não teria por que de tanto esforço, não é mesmo?

Por Talita

terça-feira, junho 08, 2010

Dos amores que tive - Parte III

Daí então, o surto. 2009. Dois mil inove. O ano da perda, o ano da posse, o ano. Talvez, um dos anos mais conturbados que eu me lembre com refresco na memória.

O ano que eu mais precisei de um desvio, de um veneno, válvulas e mais válvulas de escape. E eu o fiz acontecer um pouco antes do fim de 2008. Com modéstia, mas foi com sucesso.

E como tudo tem um começo; esse se deu inicio no feriado de Corpus Christi em 2008, numa PoliONU – simulação da ONU, realizada na sede do Poliedro, em São José dos Campos. Tudo muito lindo: grupo estudado, empolgação em demasia para fazer bonito e representar legal a unidade do interior.

Eu, extremamente de gaiato naquele navio, rodeada de delegados querendo me exterminar com os olhos. O motivo, para mim, era pelo fato de eu estar estreando na situação, por não saber como funcionava, não saber como me portar e, simplesmente, travar na hora de abrir a boca pra qualquer pronunciamento. Pronúncias as quais só se consolidaram de bobagens. Meu Deus, que amadorismo. E pra quê travar daquela forma se tinha tão boa desenvoltura longe daquele lugar? Fora essa “viagem”, outro motivo aparente pra olhares fulminantes, agora com maior sentido, seria pela situação que eu estava – novamente de gaiato – na simulação propriamente dita. Veja só: representava Coreia do Norte. É. Coreia do Norte num comitê de desarmamento e segurança internacional, onde direcionavam os debates para o tratado de não proliferação de armas nucleares.

No meio de toda essa confusão, timidez e muitos “eticéteras”, me aparece o representante da Bolívia. Um moreninho, que se achava alto, da boca grande e com uma voz engraçada. Teve a cara de pau de me seguir numa de minhas saídas da sala e me propor um acordo. Acordo que não consenti de fato, visto que fui completamente induzida a um aperto de mão concordando que eu falaria alguma coisa nas próximas sessões. Já que só podia se comunicar através de bilhetes, ele se tornou meu refúgio no papel, onde eu o atormentava com todos os meus desejos de fim ao feriado.

Numa oportunidade, ficou conversando comigo no intervalo de uma sessão e outra, noutra, me chamou pra algo que teria à noite com o pessoal do hotel. Não aceitei por achar que era mais um dos que estavam me xavecando. Não sou convencida. Não sou tão convencida. Mas talvez tenha sido ao achar que o garoto estava obrigatoriamente interessado em mim. Ok. Fim da simulação. Lista de MSN entre os participantes. Apesar de tudo, ele foi simpático, prestativo e ouviu meus desesperos. O adicionei, claro.

Uma semana de pneumonia e sem internet. Pós isso, começamos a nos falar cada vez mais regularmente e num momento de maior intimidade, perguntei-lhe sobre as intenções durante a simulação. E pro meu espanto, não foi nada do que eu suspeitei. Como assim? Me enganei a esse ponto com as boas ações e o altruísmo do garoto? Agora, João Pedro, não mais “Bolívia”. Era quase questão de honra reverter a situação. Mentira, nem era tão assim. Mesmo porque, soube de uma moça, uma ex; ora ex, ora atual; que estava ainda no caminho. Assim como contei do meu. Foi uma amizade. Não vou negar. Quase pura.

Eu até hoje não sei como foi a mudança de amizade pra qualquer outra coisa a mais que isso. As horas de conversa aumentaram desproporcionalmente. E com mais doses de intimidade, eu já estava ligando a fim de deixar o contato mais próximo.

Num momento ou outro, eu já não me interessava por outros caras. Planos pra nos vermos eram mais comentados. Contando ainda com a dificuldade de ir e vir, deparei com a contagem regressiva. Um tempo exato pra fazer e acontecer tudo. Ele viajaria no meio de 2009. Intercâmbio. Ironia ou não: Alemanha como destino.

quinta-feira, maio 06, 2010

Dos amores que tive - Parte II

Porém, no fim desse ano, 2005, comecei a andar com a Nane, que “namorava” o João Paulo. E como eu era a amiga solteira, ela queria - incontestavelmente - me arranjar um par. Até que numa festinha da escola, fui apresentada a um tal de Renan. Uma cara de bobo impagável, um andar desajeitado que me fazia rir. Apostei, e perdi, que não ficaria com o tal do “Rê”. No fim da festa, por livre e espontânea pressão, cedi aos encantos do garoto quieto que não trocava uma única palavra comigo. Talvez tenha sido a minha pior ficada, nunca quis sair tanto de um lugar como quis aquele dia. Ele, como um bom aprendiz de homem, pegou meu telefone. E por esse motivo de ser aprendiz, jamais achei que ligaria, que mandaria sinal ou qualquer coisa do gênero. Pra quê? O garoto disparou a me atazanar por SMS. Ficou dois ou três meses me mandando mensagens quase todos os dias. Eu, como aprendiz de orgulhosa e sacana que já era, não respondi a nenhuma. Fiquei até com um amigo dele pra ver se ele ficava com raiva de mim. Não deu muito certo. Prosseguiu com as mensagens até que foi num acampamento de formatura de sua 8ª série. Voltou de lá namorando e faceiro com uma menina de Pindamonhangaba que durou um mês – eu só sabia da existência dessa cidade, porque ouvia o Raul Gil mandando as crianças pronunciarem palavras difíceis, e dentre elas, estava essa cidade aí. A inveja e a falta de um, ainda que bobo, garoto no meu pé me causou um certo ciuminho, porém não era nada insuperável.

Nesse meio tempo, e já na minha oitava série, conheci o Gui, amigo da Nane também. Um magrelinho engraçado que me fazia rir sem parar. Completamente tímido com mulher. Fiquei de fevereiro ao fim de março com ele. A gente se via pouco.

Por um “nick” no MSN curioso, voltei a falar com o Renan. Ele estava participando de uma promoção: “leve essa bandeira”, algo assim. Quatro anos atrás. Era ano de Copa do Mundo. Falávamos-nos como nunca. Ele conseguiu a promoção e participou da Copa na Alemanha. Trouxe até um presente de lá, o qual eu demorei um ano e meio pra pegar. Eu gostava do Gui ainda e do Renan, eu tinha trauma. A gente ficava cada vez mais próximos. Ficamos algumas vezes. E não foi ruim. Pra fazer com que o Renan desgrudasse de mim, de novo, resolvi voltar com o Gui, ficamos mais uns três meses. O que desencadeou o namoro repentino do Renan, que eu descobri depois que era justamente pra me esquecer. Acho que ai eu descobri que gostava do ex-cara-de-bobo e ex-desajeitado. A gente continuava se vendo muito, pela quantidade de amigos em comum e por um amigo que sofreu acidente.

Não deu outra, ele largou da garota. Ficou comigo, voltou com a garota, largou de novo. Ficou comigo. E nesse decorrer tentamos firmar alguma coisa por algumas outras vezes. Mas o que duas crianças de 14 e 15 anos entenderiam de um relacionamento “sério”? Embora todas as desavenças, 2007 deve ter sido o melhor ano. Aprendi a gostar de moto e trilhas. Criei uma paixão pelo rancho indescritível. Aprendi a dirigir, gostar de destilado e um pouco de cerveja, ouvia mais sertanejo, jogar truco e fazer fogueira. Fiquei mais próxima da família, e eles me tratavam como filha, numa redoma.

Estive nesse ciclo até o último beijo que tivemos. Inicio de abril em 2009. Tive alguns outros “amores” nesse tempo todo. O Gui, aquele irmão do Wilian que morava em frente à casa da minha avó, o Tchub; a realização de um desejo que eu nutria desde às minhas aulas de inglês nos 13 e 14 anos, uma retomada no Johnny; o Grassi; o Cristiano Ronaldo das meninas; o João Otávio, o Rafa, o Jefferson – não necessariamente nessa ordem.

Teve também os que gostaram de mim, mas não acho pertinente citar. Não por ora.

sexta-feira, abril 23, 2010

Dos amores que tive - Parte I

Dos amores que tive me lembro do Juninho um ano mais velho. Eu tinha uns três, quatro anos, morava ainda em Américo Brasiliense. Pra te falar a verdade, eu não sei do que eu gostava mais nele, se era do brinquedo – que ele nunca me deixava brincar – em forma de escada rolante, funcionando a pilha com uns pingüins que subiam e desciam e faziam meus olhos brilharem fascinados; dos carrinhos em miniatura, principalmente o amarelo mais brilhante que um dia eu peguei escondido; ou ainda dos cabelos dourados em formato de tigela que brilhavam na luz do sol. Adorava brincar de princesa, só para a bruxa me congelar e ele ter que me dar um beijo na testa, rápido e tímido, para assim, eu voltar pro meu castelo. Mas ele era um ano mais velho que eu; ele queria saber de brincar de guerreiro-valente com uma espada que brilhava. Daí então, eu me interessei pelo Ricardo, morava do lado de casa, não tão bonito quanto o Juninho, mas vivia pegando na minha mão. Além do mais, ele me deixava brincar no Nintendo, naquele joguinho que ia matando os patinhos. Não durou muito tempo, tive que vir pra Jaú.

Fui morar com a avó, e na rua da casa dela tinha o João Paulo e os irmãos Gui e Wilian. O João Paulo era bem mais velho, uns três anos, não se interessava em falar com meninas mais novas. Ele queria jogar futebol e video-game e, por eu brincar com a irmã dele, vivia me chamando de pirralha e "rechonchuda". Já o Gui era gordinho, um ano mais velho, sempre me dava atenção. Emprestava a bicicleta, me empurrava no skate, me ensinou a jogar bolinha de gude, me dava chocolate. Só que eu me interessava mesmo era pelo Wilian, mais alto, mais velho, mais loiro e um par de olhos azuis que eu achava lindo, e mais tímido. Mudaram-se de casa.

Depois vieram os amores de colégio. Ah, o Victor... achei que nunca iria esquecer aquele garoto de nariz fininho, bem branquinho, com umas pintinhas no rosto. Vivia me atazanando a vida, sentava perto de mim só pra poder puxar meu cabelo. E ainda por cima, tinha a cara de pau de dizer que era pra ficar com o cheiro do meu cabelo nas mãos. Esses dias eu descobri que era realmente verdade. Passei tempos encantada pelo Victor, escrevia o nome dele nos cadernos, dentro de corações com flechas, visitava a família, o chamava para as festinhas de aniversário... e quando ele ia, eu quase surtava; colocava a roupa mais bonita, o batom que eu mais gostava e me mantinha toda faceira no meio das meninas a fim que ele me notasse. Ele notava de fato, mas eu nunca soube.

Gostei do Victor até a 3ª série, foi quando eu mudei de período e ele, de cidade. Na 3ª série então me deparei com um bem mais velho, já do “ginásio”; exalando 5ª série. Ruivinho, alto, magro e todo sério. O Pedro me fez escrever cartas de amor, me fez segui-lo pelos intervalos só pra passar diante ou do lado dele, pra esbarrar uma vez ou outra. E quando ele me olhava e "sorria", ainda que risse de mim, eu não podia acreditar, considerava, então, o maior presente da década. As meninas entregavam cartas que eu não tinha coragem de entregar, ele diz, inclusive, que as possui até hoje. Sofri por não ser correspondida até a minha 5ª série e 8ª série dele, quando ele mudou de colégio. Na 6ª serie, dei meu primeiro beijo e jurei pra mim que não iria mais gostar de ninguém devido ao trauma que foi.

Mas, no fim do mesmo ano, quando mudei de colégio, conheci o Johnny. Moreno, alto, bonito e sensual. Ele entraria pro primeiro colegial da escola nova, amigo do Lucrinha, que ficava com a Bruna e era minha melhor amiga. Foi com quem eu fui a primeira vez ao cinema de casalzinho, com quem eu passava horas no telefone, quem eu morria de saudade. Quando o cruzava nos intervalos da escola era a coisa mais gostosa que tinha, coração acelerava, mãos suavam e, nossa! Eu queria namorar aquele rapaz. Até o dia em que ele se engraçou com uma menina mais velha, a Thais, uma loira linda. Foi até compreensível, mas passei a minha sétima série inteira pensando no tal do Johnny.

sexta-feira, abril 09, 2010

Descendo hoje a Rua Nova do Almada, reparei de repente nas costas do homem que descia diante de mim. Eram as costas vulgares de um homem qualquer, o casaco de um fato modesto num dorso de transeunte ocasional. Levava uma pasta velha debaixo do braço esquerdo, e punha no chão, ao ritmo do andando, um guarda-chuva enrolado, que trazia pela curva da mão direita.

Senti de repente uma coisa parecida com ternura por este homem. Senti nele a ternura que se sente pela comum vulgaridade humana, pelo banal cotidiano do chefe de família que vi no trabalho, pelo lar humilde e alegre dele, pelos prazeres alegres e tristes de que forçosamente se compõe sua vida, pela inocência de viver sem analisar, pela naturalidade animal daquelas costas vestidas.

(até aqui, são palavras de Bernardo Soares, d'O livro do Desassossego. Daqui por diante, são palavras minhas)

Talvez estivesse indo para a casa depois de um dia cansado de trabalho. O ritmo peculiar e faceto poderia representar a vontade de ver a mulher e os filhos, contar que foi promovido ou que recebeu algum elogio do chefe.

Minha curiosidade surgiu justamente pelo fato de eu ter adquirido uma terna admiração por aquelas costas no terno azul marinho, no guarda-chuva cinza-triste que o acompanhava e batia no chão a cada pisar esquerdo. A pasta era meio velha, aspecto de pesada e ele a levava embaixo do braço - agora - direito, num apreço imensurável, como se carregasse a coisa mais valiosa do mundo ali: em suas mãos. Talvez dinheiro, talvez um convite, talvez um exame.

Não deu para ver o rosto, mas apostaria que carregava um semblante calmo, ao mesmo tempo cansado, feliz e ansioso pela chegada aonde quer que fosse.
Eu o segui até quando o vi entrar numa casinha cor de creme, daquelas antigas, sem garagem, número 18. A cor das paredes já meio descascada. Um toldo verde musgo por cima das duas janelas e uma luz amarela acesa na janela direita.

De modo que ia chegando perto dessa casa, notei que o passo apertava, as pernas pareciam mais "duras"; por não conseguir acompanhar o guarda-chuva com o caminhar, parou de batê-lo na calçada e o colocou junto da pasta. Tirou o chapéu da cabeça, trouxe-o junto ao peito. Parou repentinamente em frente à porta que entraria, olho-a como um todo e entrou. Ali terminava a minha saga.

Por Bernardo e Talita

O inerente da civilização

A fim de iniciar qualquer discussão sobre corrupção, e o quão ferido fica o pobre depois de ter seus serviços básicos minados, o que alimenta a desigualdade e injustiça, principalmente, senão somente, na camada social desprovida financeiramente, é necessário analisar que o mundo – não restringindo pros dias de hoje – necessita do paradoxo.

No século 19, Marx; sem vivenciar a Grande Guerra, Hitler, Guerra Fria, Depressão Econômica, Neil Armstrong; observara que a história sempre se desenvolveu no quadro de um antagonismo, sendo homens livres e escravos, na Antiguidade; senhores e servos, na Idade Média; burguesia e proletariado, nos tempos modernos.

Sendo assim, fica claro que é inevitável toda a desigualdade do capitalismo. E que alguns precisam perder para outros ganharem, mantendo o equilíbrio preciso para o sistema vigente. O que leva alguns a arranjarem um meio, ainda que recriminável, para conseguir o que anseiam, seja por necessidade, seja por vaidade ou ostentação.

Considerando que corrupção não é aquela que gira em torno só das três esferas do poder (legislativo, judiciário e executivo), presencia-se, portanto, em qualquer ato que esteja proposto em favorecer um, enquanto prejudica outro, também em desvios de recursos, sonegação de impostos, entre outros; fazendo com que se torne intrínseco ao indivíduo o ato de corromper-se, o que não oferece integridade moral e plena ao povo quando esse não permite a corrupção inerente à civilização. Pode-se, ao menos, desejar um país menos corrupto; e o meio mais sensato para isso, ocasiona-se quando parte de cada um a iniciativa de melhora.

Por Talita

quarta-feira, março 31, 2010

Minha apostila e minhas matérias do fichário desse meu (ironicamente) parado terceiro – e finalmente – ano não são mais cheios de nomes inteiros, sobrenomes, versos de músicas românticas e corações com flechas. No meu auge dos tão esperados 18 anos, eu percebi que ele não leria e eu não me tornaria mais ou menos apaixonada por ele.

Não foi porque eu parei de descrever meus encontros que eles deixaram de ser vividos e contemplados com a minha entrega por inteiro. Nem foi porque ele mora mais perto que eu parei de chorar em idas e voltas.

Ando guardando menos – ou quase nada – coisas pra mim. Não me sinto mais tão minha como me senti ao longo de minha pouca idade. A “palavra tag” é “entrega”. Um “shot” de coragem atrás do meu escudo covarde e falho talvez tenha colaborado um tanto.

Venho carregando um laço no meu dedo direito, costume provindo dos gregos e romanos, um hábito hindu provavelmente, de suma importância pra mim. A insegurança é menor. Estou dessa vez acompanhada de uma só pessoa (entregue – acredito eu – na mesma proporção). Não me são agregados “jotas”, “dês” e qualquer outra letra, nem qualquer outra vaca profana que me tire o eixo.

Os planos são mais palpáveis. Injeções. As bobeiras, babaquices e intimidades estão cada vez “piores” e o amadurecimento vem sendo contínuo. A necessidade, crescente. Estou mais olhos e pele.

Artifícios da paranóia delirante da internet tem se mostrado inversamente proporcional à saudade quando testados no ato de suprir todo e qualquer anseio. A operadora do celular é totalmente pró a casais distantes, proporcionando-me assim noites inteiras, e literais, de afeto. Injeções (novamente).

Tem família, carinho em demasia e menos ceticismo. Orgulho parte mais (bem mais) de mim; eu admito. E deve ser por isso que tem sido assim... Estranhamente bom. Inesperadamente bom.

29 de março de 2010
3h13

Por mim

segunda-feira, março 22, 2010

Não é de hoje, não é desse século que vemos e estudamos o homem falhar e pagar pelas próprias palavras. Incontáveis são as vezes que provamos a nós mesmos que a nossa “elevação” intelecto-racional é, de muito fato, o nosso aniquilamento, o embaraço camuflado é o paradoxo de uma dádiva que nos faz (moralmente) inferiores. Não porque esse era intuito principal, mas sim porque para outros fins, e nos dispusemos sem questionar, como já é de praxe.

Noutras ocasiões há a predisposição de um amparo religioso. O lado bom, ou não, é que isso realmente interfere na vida das pessoas proporcionando-lhes alguma dignidade aparente, por mais que seja imposta (e relativa). O biólogo Richard Dawkins disse em uma entrevista que uma pessoa que deixa de fazer o “mal” apenas porque crê na eterna continuidade da vida – vida após a morte; concepções de céu e inferno – ou seja, aquele que faz o bem por medo de um “castigo” divino é, no mínimo, antiético. E é aí que entra uma série de outras questões, o tão batido tema sobre pena de morte por exemplo, visto que não é o medo que se deve introduzir numa sociedade e, sim, a ética acompanhada da dignidade. Esculpir a idéia de que tirar o direito da vida com as mãos deve-se estar fora de cogitação por já ser atribuído à sua moral e não por medo de uma possível punição comprometendo sua (pseudo) liberdade. Entende onde quero chegar? Onde está o caráter moral disso? Existe alguma bondade natural ou tudo é atribuído aos “desejos” de Deus? O homem nasce bom? Ou somos maus por natureza?

Numa das poucas vezes que paro pra assistir TV, vi um homem que matou outro porque esse se recusou a fechar a janela do ônibus. Não estou querendo proporcionar sensacionalismo ou uma sessão “Datena” através desse texto, mas, sinceramente, a que ponto chegou nosso discernimento mental? – Se procede a informação de que só usamos 10% da capacidade do cérebro, que isso seja revisto para que possamos descobrir como ir além, não? Alguns poderiam chegar até mim e me tentar “justificar” o ato ao questionar o nível de instrução mental desse homem. Mas convenhamos, é ingenuidade analisar a tal instrução mental, pois quanto mais controle do cérebro tivermos, maior o intuito em exercer uma dominação uns com os outros. Revolução do Bichos, lembra? Quanto ao assassino do ônibus, pouco importaria se tratasse de um analfabeto, comerciante, professor, ou um “Dr.”. Ainda é importante lembrar que Harry Truman, político e estadunidense, juiz em 1922, senador em 34 e presidente em 45, foi um dos responsáveis por um dos maiores flagelos da história, as bombas atômicas lançadas em Hiroshima e Nagasaki.

Não importa se é bem instruído ou não, simplesmente são humanos. O homem é dotado de uma essência ruim que vai além do extinto de preservação de vida dos demais animais. Somos egoístas, dominadores, onipotentes. Não só. Somos todos iguais, o que nos difere são as circunstâncias e as armas em mãos. “A ocasião faz o ladrão.”

Por Talita

terça-feira, janeiro 26, 2010

E eu o observo, do único meio que me propõe. Lindo e leve antes de dormir. Dias e noites profanas. Histórias lânguidas. Não é mais um desejo vão e promíscuo, é indigência. E tudo se resume às poucas palavras rasas que sei pronunciar diante de minha percepção pagã.

São 3h04, madrugada do dia 25 de janeiro do novo ano que nasce: 2010. São todos os meus planos temperados com você, acrescidos a cada momento do meu livro. Os problemas pararam de girar em torno do que giravam. Agora, exatamente agora, somos nós. Nós. Nós e todos os nossos cúmplices. Tornou-se mais que um personagem ridículo a ser esquecido. Tornou-se o protagonista e antagonista das minhas idéias; o mais querido no meu sofá, ou esteado no meu tapete enquanto prende as minhas pernas entre as suas. Faça parte do meu oxigênio e tem de fazer parte da minha língua.

Faz-se de anjo com qualquer luz que o propicie. Engana, seduz, persuade. Enlouquece. Enloquece... com qualquer sorriso bem dado ou palavras bem articuladas, ou ainda, alguma voz um pouco mais “molinha”. Deliciosamente viciante. Feito um narcótico. Completamente ilícito. Enquanto eu, sem nenhuma proteção. Sem muro. Sem orgulho. Sem roupa. Estou feita de sorrisos. E recheada de clichê.

E mais uma vez, tudo se resume às poucas palavras rasas que sei pronunciar diante de minha percepção pagã. 3h22.

Por Catarina

quarta-feira, janeiro 20, 2010

Eu sinto que o ano começa no fim das férias. Ou melhor, sinto que o ano começa quando está perto de começar as aulas. O ano letivo, é de fato o “ano” letivo. É aquele que você coloca na cabeça que depois que começa, demora pra terminar (perdoem-me o queísmo). Ainda que o mais legal seja agora, antes das férias de julho, sem – muita – pressão e sem aquela preocupação constante de fim de ano letivo. Notas, recuperações, re-recuperações e etc.

Eu desanimei no decorrer do meu ensino médio. As coisas eram mais legais quando eu me empolgava pra comprar o material escolar. Estrear o caderno, a caneta macia, o cuidado ao apagar do jeito “bonitinho” a borracha. Sempre tudo muito bonito no início. A classe se mostra mais unida, mais receptiva, mais de bem com a vida. Semblantes, muitas vezes, mais simpáticos que o normal. Férias viram assunto. Vestibular e decisões também. A promessa continua a mesma dos anos anteriores: “esse ano eu vou estudar”. Os professores não mais estressados. Tarefas em dia, estojo limpo, matéria em ordem; o ato de copiar do “quadro-negro” torna-se quase involuntário. É desejo de recomeçar, é o gás pairando sobre as nossas cabeças.

Nos três primeiros meses a promessa vem se cumprindo de fato. Estudos, estudos, estudos. Amizade. “No-stress”. A mulher da cantina traz salgados novos. Os coordenadores demonstram empolgação sobre o planejamento do ano. Alguns horários de aulas ainda se alteram. Alunos novos dão as caras. No fim de maio, o gás vai acabando. Contagens regressivas para as férias de julho começam a aparecer. Aí, quando finalmente chega, você se vê diante de uma válvula, ou várias delas, de escape. Eis o momento para novas promessas para o semestre seguinte. As preocupações com os últimos bimestres, ou o último trimestre, começam a te cumprimentar. A tensão cresce. Meio do ano e diga “oi” para os vestibulares. Você não sabe mais de onde surgiu tanta cobrança, se foi de você, dos coordenadores, da tia da cantina, dos seus pais, dos professores...

Já no fim, tudo levado as coxas. As buscas por grafite “zero-cinco” ficam constantes. A borracha está rabiscada e, por conta do lápis “seis-bê”, ela mancha ao apagar. As últimas folhas dos cadernos-bonitos estão rabiscadas. Nomes, desenhos, jogos da velha, forca, contas, telefones, desejos, parábolas, bilhetes, moléculas. Nada mais que marcas de um ano inteiro. Época de revisão. Mais vestibulares. Do gás você já não se lembra. Acordar disposto você não sabe mais o que significa. O “quadro negro” está mais negro e com um humor mais desagradável que o normal. Professores travam colunas (grande, Gramática), distúrbios intestinais (que o diga meu ex-professor de Física), crises de estresse (ê, Jesus), filhos nascem, audiências aparecem, e assim vai caminhando.

O ano parece realmente terminar em dois momentos: ao fim de suas primeiras fases, que acabam no mesmo ano mesmo. Ou ao fim de suas segundas fases, mas aí só ano que vem. E agora sim, classifique-se como felizardo ou não diante do ano que passou.

Por Talita