segunda-feira, dezembro 13, 2010

Faça seu próprio título

Embora estejamos contidos numa sociedade que uma boa parte dela – ainda não considerável – esteja ciente de sua incapacidade, enquanto parte ativa e vívida de uma democracia, não há solução ou salvação imediata, uma vez que pautamos em um coletivo de vertentes que de certa forma nos encaixamos, ou questionamos sem ter noção de como fazê-lo. Ou ainda, nos indignamos, mas nos abstemos, por acreditar que não há, em qualquer que seja hipótese, uma forma de reagir e coibir que o “sistema” nos faça refém de nós mesmos.

Sendo assim, torna-se mais simpático, ou ao menos tolerável, administrar essa culpa a outrem, é claro que não precisa ser ninguém extremamente apto a tomar decisões ou a “fazer a diferença”, de fato. Nem com suma capacidade de problematizar o que nos atormenta. Maiormente, se livrar do encargo é estar quitado com suas obrigações de ser humano, um ser contente na medida das suas limitações adquiridas no decorrer da vida, por acreditar na demagogia baixa da “consciência limpa”.

Acho interessante ressalvar que eu, como tantos outros, deixei de acreditar; ainda que passe todo o decorrer da minha vida expondo essa veia apelativa e ao mesmo tempo inútil. Sou quase que obrigada a assistir via televisiva, excelentíssimo presidente da república declarar que a sua eleição, tão como a eleição da candidata Dilma, rompe com um preconceito (preconceito?). Venho, a fim desta afirmação no mínimo lastimosa, fazer das palavras do colunista Reinaldo Azevedo, as minhas: “Ora, então a eventual derrota de ambos teria significado o contrário. Logo, a única maneira de a gente demonstrar que ama o Brasil unido é alinhando-se com o PT.” Por alguns momentos sinto falta das oligarquias declaradas dos cafeicultores e dos (perfeitamente explícitos) currais eleitorais espalhados. Ainda por Reinaldo, “… Quem inventou esse país cindido tem um projeto político e dele extrai os melhores resultados para si e para o seu grupo (…)”. Ou não compreendo mais as definições, ou o Lulismo deu a elas um novo sentido. Assim, como que assistencialismo virou “bem-estar-social” e “distribuição de renda”. Que fique claro que não estou aqui para defender algum outro partido, só acredito ser desinteressante para o país manter 20 anos (tempo necessário para formar uma geração) o PT no poder.

O presidente ainda acredita e declara exalando felicidade que o ENEM foi um sucesso e para ele todo pensamento que se diga oposto se resume no bordão dos inculpáveis: “intriga da oposição”. Não existe sequer um problema, não existe espaço qualquer para falhas, o que há, segundo aquele senhor, é uma “perseguiçãozinha” sem fundamento pela qual as crises, supostamente, se determinam. Outro exemplo, ainda nas concepções minimalistas do excelentíssimo: é necessário haver uma revisão do TCU (Tribunal de Contas da União)! Diminuir a fiscalização, talvez? Não, o problema do Lula não é com tudo que pode o fiscalizar, o problema dele é mesmo com a democracia, nossa gloriosa democracia, obviamente.

Definitivamente, não sei o que é política, não sei como discutir política e, para ajudar, sou extremamente teimosa com esse assunto. Tive a agonia em acompanhar partidos tradicionais, confundirem as suas tradições com ortodoxia. De um lado a direita falida e do outro a esquerda progressista? Ou de um lado, o sucesso capitalista e do outro o radical, utópico e antiquado esquerdismo? Mesmo que se dissemine, vagarosamente, essa dicotomia, os prezados candidatos não deixarão de ser obsoletos. Presenciei campanhas completamente detestáveis. Vi ideologias abortadas que se consideram incorruptíveis.

De maneira evidente, comento da presidência da república, visto que de deputado para baixo, convenhamos, não há muito o que se discutir, não há o que argumentar. É o fiasco político do Brasil, é um período que se consagrará na história muito pela vergonha. Brasileiro não é de levar eleição a sério, mas agora, como colaboração, são os candidatos que resolveram brincar e tudo se tornou uma piada qualquer, muito ruim, por sinal.

No segundo turno, ninguém sabia, pelo menos eu, em qual marqueteiro votar. Não sabia qual publicitário merecia ser eleito, o Tucano ou o Petista? Muito embora, ambos tenham tido seus respectivos fracassos, ainda que João Santana tenha sido eleito outra vez – será que não fazem mais publicitário como o grande “mensaleiro” Duda Mendonça? Às vezes cultivo minhas dúvidas se aquele dedo foi mesmo cortado acidentalmente na metalúrgica, em1963, ou em 2002, para dramatizar e enfatizar ainda mais a campanha do “pobre que venceu!” e que estava ali, disposto a governar “pelo povo”. Mas que povo? Ah, o povo que tem fome. Aliás, a própria Fome, já que está mais que comprovado que barriga vota e elege. Sem querer depreciar as necessidades de ninguém, “reducionismo político” deixamos para o Pernambucano sindicalista, tão pouco evocar regionalismo estúpido que parte da mídia compra da (suposta!) “esquerda governamental” e revende desnorteadamente.

A crise continua se perpetuando e se consagrando, mas eu te juro que tenho algum resto de esperanças. Existe uma possibilidade (muito) mínima de reação. Um dia, eu acredito, a internet será utilizada com outros propósitos que não os frívolos de hoje. Ela é, entre as ferramentas existentes, a que consegue ser mais eficaz devido à liberdade e amplitude que pode tomar. Se unirmos internet, conteúdo e gente inteligente, é possível fazer alguma coisa, dá para difundir o embrião do que poderá vir a ser a verdadeira “diferença”. Mas é claro, é a próxima geração que vai se encarregar disso, a minha tem “problemas de consumo” mais importantes para resolver. Até lá, fico na mesma lástima de toda eleição.
Por Talita