segunda-feira, agosto 31, 2009

Sala 101

“- Uma vez me perguntaste – disse O’Brien – o que havia na sala 101. E eu te disse que sabias a resposta. Todos sabem. O que há na sala 101 é a pior coisa do mundo.

A porta tornou a abrir-se. Um guarda entrou, trazendo algo feito de arame, uma caixa, ou cesta. Colocou-o na mesa distante. Por causa da posição ocupada por O’Brien, Winston não pôde enxergar bem o que era.

- A pior coisa do mundo – disse O’Brien – varia de indivíduo para indivíduo. Pode ser o sepultamento vivo, a morte pelo fogo, afogamento, empalamento, ou cinqüenta outras mortes. Casos há em que é algo trivial, nem ao menos mortífero.

Afastou-se um pouco para o lado, de modo que Winston pudesse ver melhor o que estava sobre a mesa. Era uma gaiola de arame, retangular, com uma alça em cima. Fixado na frente havia um objeto que parecia uma máscara de esgrima, com o lado côncavo para fora. Embora estivesse a três ou quatro metros de distância, Winston pôde ver que a gaiola era dividida longitudinalmente em dois compartimentos, e que em cada uma havia um animal. Eram ratazanas.

- No teu caso – disse O’Brien –, a pior coisa do mundo são ratos.

(...) O’Brien aproximou a gaiola. Estava a menos de um metro do rosto de Winston.

- Apertei a primeira alavanca – disse O’Brien. – Compreendes a construção dessa gaiola. A máscara adapta-se à tua cabeça, sem deixar saída. Quando eu apertar esta outra alavanca, a porta da gaiola correrá. Os monstros famintos saltarão por ela como balas. Já viste um rato pular no ar? Às vezes atacam primeiro os olhos. Às vezes abrem caminho pelas bochechas e devoram a língua.

(...) Tarde demais, tarde demais talvez. Mas compreendera de repente que no mundo inteiro só havia uma pessoa a quem transferir castigo – um corpo que podia colocar diante dos ratos. E pôs-se a berrar freneticamente, repetidamente:

- Faze isso com Júlia! Faze isso com Júlia! Comigo não! Júlia! Não me importa o que faças a ela. Arranca-lhe a cara, desnuda-lhe os ossos. Não comigo! Com Júlia! Comigo não!”

1984, cap. 22. George Orwell

E em sua sala 101, o que haveria?

Por Talita

sábado, agosto 29, 2009

Eu acharia interessante se eu falasse sobre a banalização do amor, embora já esteja banalizado falar da banalização do amor. Queria falar do quanto está saturado escrever sobre a dor, mas falar do “falar da dor”, está saturado também. Eu queria, ainda que seja por mais uma vez, dizer que somos um clichê, mas o clichê maior é “clichê” pronunciar, e eu sei disso. Tratar da melancolia é um tema batido, porém o tal dizer faz-se um tema passado. Eu queria dizer que nossos conceitos sobre política, ainda não passam de senso comum, mas é um grande senso comum isso ser notado (e negligenciado). Eu queria dizer que adquirir cultura é, ou talvez seja, um costume antigo, mas insistir nessa ideia é ser ultrapassado. Nós somos os “sabe tudo”, mas nunca vi tanto conhecimento assim, inerte, vedado.

Por Talita

terça-feira, agosto 25, 2009

L'amour

Carla Bruni - L'Amour
Found at bee mp3 search engine




Peço, encarecidamente, que desconsidere as proporções e qualquer erro aparente. 22h46, acabei de fazê-lo. Tossindo feito louca e tenho aula amanhã.

Por Talita

segunda-feira, agosto 24, 2009

A fim de inovar? Mantenha!

E aqui estamos: inseridos até a cabeça no nosso mundo contemporâneo, o qual fez por merecer, talvez único e exclusivamente, o rótulo de “Sociedade Clichê”. Essa palavrinha tão gostosa de falar provinda do belíssimo francês, palavra a qual me arrepia a espinha – os que estão à minha volta, sabem o quão terror ela me provoca. Para marcarmos de fato o início dessa conversa, façamos a análise de que não existimos, não somos; Apenas representamos. Uma concluída representação do que já foi feito, do que já foi vivido, à sombra do que já foi bom, às sombras do vanguardismo, tão somente um clichê, não? Acredito que seja comum, tanto pra você quanto pra mim, ouvir por aí que somos inovadores. Cada vez mais no topo da tecnologia. E ainda tem gente que bate palma pra isso tudo – e assim, como venho aprendendo nas minhas deliciosas aulas de Sociologia, eu não me excluo.

Hoje, a diferenciação é a moda vintage. Aquela, sabe? Derivada dos séculos passados. A maravilhosa Wikipédia conceitua: “Moda retrógrada. Uma recuperação de estilos dos anos 20, 30, 40, 50 e 60”. Será mesmo uma recuperação? Ou “panela velha é que faz comida boa”? Sinceramente, eu apostaria em que tudo isso se trata de uma cópia gigantesca. Que tal ser a aceitação de algo que passou foi realmente bom e estava esquecido? Os botões, as listras, os óculos, os tênis, as batas, os vestidos, as combinações de cores, o xadrez! Talvez o tal do vintage tenha deixado de ser moda “antiga” e ocupado o lugar a fim de apreciar o “velho”, não obstante a nossa incapacidade de criar.

Para facilitar: ou apreciamos o lixo atual – com suas raras exceções, ou vivemos intensamente em nossa rodinha clichê. Estamos num ciclo vicioso, numa mesmice. Na novela, o mocinho sempre passa por altos e baixos e, no fim, vive feliz para sempre com o seu amor. Aos olhos da nossa belíssima justiça, os poderosos são inocentes, os menores infratores são somente crianças. O Estado é culpado, o presidente também. Sem contar na superlotação das cadeias. No horário eleitoral, ou nos submetemos ao “Caro povo brasileiro” ou desligamos a TV. E aí, não muitos meses depois, ficamos perplexos diante de frases tais como “esse dinheiro não é meu”, ou nos contentamos com um “boa noite e até amanhã” sem saber o real destino dos questionados. No outro dia, a Fátima virá com mais “notícias” e a tal impunidade, a qual deveria ser lembrada, cai no esquecimento depois do próximo anúncio. Mas os clichês não. Ah, os clichês... Esses continuam com louvor: “O que acaba com o Brasil é a corrupção”. Essas são as tendências: fazer da rotina um jargão. Tornar da contemporaneidade o senso comum da vida. Fazemos isso porque somos parte do “mundo dos espertos”. Pulamos na merda - desconsidere a linguagem, por favor - e estamos nadando de braçada nela. E pouco importa se iremos sair dela ou não, cabe a nós nos mantermos e aproveitar o momento. “Viver cada dia como se fosse o último”, até o Carpe Diem (aquele que diz para colhermos o dia e aproveitarmos o momento) que dispunha de várias interpretações caiu nessa lástima. E assim, aceitamos as condições por total conveniência ou dificuldade no raciocínio.

Contudo, termino como comecei. Afinal, “brasileiro não desiste nunca!” e viveremos todos na incumbência de por um ponto final em nossos dias logo após a um reluzente “felizes para sempre”.

Por Talita

domingo, agosto 23, 2009

Faz tempo que eu venho me preocupando mais em estar do que ser. E agora eu estou preocupada em estar sentindo – perdoe o gerúndio. Sentindo qualquer coisa. Medo, calor, fogo. Algo que me faça rir ou chorar por qualquer motivo que me baste. Estou na busca de um coração que bata, ou apanhe. Alguma rua que me direcione a algum lugar realmente sólido. E que, nesse lugar, eu possa me restabelecer, definir minhas bases e me agarrar a elas com toda a força que ainda me resta. Nem que eu precise resgatar algumas forças do passado, é só pra me apoiar mesmo.

Ouvi dizer que eu não expresso mais os fatos que me acontecem, só relato. Como se eu estivesse completamente fora da situação. Deixando em ênfase toda a minha frieza diante daquilo.

Talvez continue intacto, não sei até quando. Eu só estacionei, e passei a andar mecanicamente. “Stand by”, sabe? Piloto automático, ou como quiser chamar.

“Milhões de frases sem nenhuma cor” – talvez não haja frase melhor que se encaixe.

Por Mim/Desconhecido

ps.: (mais que qualquer vez que eu tenha dito) volta.

sábado, agosto 15, 2009

Não sei se você continua pondo a mão na boca pra gargalhar. Não se você continua sentindo arrepio na orelha. E também não sei se você lembra como nós chamávamos isso. Não sei se você continua a não sentir cócega. Não sei se você continua com preguiça de fazer a barba. Não sei se continua fanático por futebol. Não sei se ainda lembra-se de mim quando usa as roupas que fui contigo comprar. Não sei se você continua a usar o mesmo desodorante de embalagem preta e marrom. Não sei se você ainda continua com as mesmas manias, mesmas opiniões. Não sei se você ainda continua dormindo repentinamente em qualquer lugar. Não sei se você tem se alimentado direito. Não sei se você continua não gostando de mandar mensagens no celular. Não sei se você continua com as mesmas brincadeiras. Não sei se você conseguiu zerar mais ainda aquele jogo que você era viciado. Não sei se você continua não gostando Coca-Cola. Não sei se você continua fazendo aquele seu brigadeiro de panela e comendo com colher. Não sei qual o curso que você está fazendo agora e qual o próximo que você pretende fazer. Não sei pra quais lugares você tem ido, quais lugares tem conhecido. Não sei se você continua a fazer o açaí daquele jeito que eu gosto. Não sei quais tem sido os seus sonhos, os seus planos. Não sei como tem sido a sua vida.
Isso é saudade.

Por Srta. Monteiro

domingo, agosto 09, 2009

Carreiras - com "B"

Que me desculpem os decididos que nunca passaram por isso. Não que eu seja pessoa mais indecisa – já vi muitos piores que eu. Mas é que vai chegando essa época do ano e eu vejo o vestibular gritando de tão perto. Não é o meu ano de decisão definitiva, mas por conviver com pessoas que vão prestar, o desespero vai batendo e aí aquela perguntinha insiste em me pairar: “o que eu vou ser quando eu crescer?!”.

Olha, já pensei em ser muitas coisas. Cogitei ser cabeleireira, quando eu ganhei aquela boneca que só tem a cabeça, um cabelão louro e um kit de maquiagem. Astronauta, quando eu soube que pisaram na Lua. Veterinária, quando a Susi – uma cachorrinha que eu ganhei nos meus 3 anos –chegou. Ginecologista, quando eu fiquei sabendo que poderia fazer parto. Pensei em viver de música, quando comecei a aprender meu primeiro instrumento. Fazer qualquer coisa e morar nos Estados Unidos, assim que eu entrei na aulinha de inglês. Pensei em ser modelo, mas aí me olhei direito no espelho e vi que eu era baixa e gordinha demais. Depois, pensei em ser modelo fotográfica, mas aí me olhei direito no espelho de novo e vi que meu rosto era redondo demais e que não tinha nada de diferente. Achava que seria legal ser estilista, ao desenhar minhas modelos com roupas “diferentes” de cintura finíssima, peito grande e quadril largo. Talvez fazer da natação uma profissão seria divertido também, aí então comecei a fazer aula. Desisti. Eu era muito gordinha e usava um maiô preto e branco e quando íamos brincar que o tubarão ia atrás dos peixinhos, sempre me encarregavam de ser a baleia – eu não achava muito interessante. Professora de alguma coisa já me veio à cabeça, quer coisa mais bonita que ensinar? Entretanto me lembrei de como os coleguinhas de classe falavam mal das professoras. Desisti também. Bombeiro, mas tinha medo de morrer queimada. Polícia Militar, mas tinha medo de morrer com tiro, ou esfaqueada, ou sei lá. Médica de alguma coisa, mas eu morria (aliás, morro) de medo de agulha/sangue/veia. Quis ser engenheira, quando acompanhei de perto a construção da casa de uma amiga. Escritora, mas só quando eu escrevia meus textos de três páginas e achava que estava estupendo. Viver de arte, quando pintei meu primeiro quadro. Artes Cênicas, depois de ser aplaudida na minha primeira peça na escola (Rei Arthur, eu era a bruxa principal). Cantora, depois de assistir àquelas criancinhas indo ao Raul Gil. Relações Internacionais, quando eu soube do que se tratava. No auge da minha 4ª série, ao ver a tal da Suzane von Richthofen sendo acusada de duplo homicídio triplamente qualificado, pensei em ser juíza. E desde então, mantive a opinião.

A partir disso, fui levando em consideração a idéia, dando ênfase ao que eu ia bem na escola. Destacava-me claramente em Humanas. Pesquisei sobre a profissão, li alguns livros e comecei a admirar de verdade a possibilidade de ser uma cidadã investida de autoridade pública com o poder para exercer a atividade jurisdicional.

Contudo, de uns tempos pra cá, comecei a traçar um estilo das pessoas que passam no vestibular de Direito. Hei de admitir, não são lá muito parecidos comigo. Inteligentes demais, talvez. Embora eu tenha enfraquecido, não desisti. Muitos acasos me levam a não desistir. Quiçá eu ande precisando de umas injeções de ânimo e determinação. Enquanto isso não acontece, uma futura arquiteta, quem sabe. Psicologia deve ser legal. Jornalismo também. E Fisioterapia? Gastronomia é atraente também, imagina?

Por Talita

quarta-feira, agosto 05, 2009

E cá estou: na escuridão do meu quarto onde você já esteve. Não querendo ver meu rosto exausto e estampado de saudade no espelho, nem na claridade do dia. Visto-me com um sorriso forjado e extremamente convincente a todos que aqui entram.

Perdoe os meus textos repletos de pesares, o que está por dentro fica um pouco mais difícil forjar.

Encontro-me numa maratona de filmes. Alguns deles, filmes de mulherzinha, eu confesso. Tentando me confortar/completar com todas as recordações que tenho. Desde o primeiro abraço até a minha última imagem sua. Mantendo qualquer tentativa de prever algo, como, se assim, eu me revigorasse e sentisse toda aquela angústia pela espera da volta.

Acredito na mudança, acredito em nós, acredito no amanhã. Eu vou ficar bem, você, idem. Nós ficaremos. Como eu já lhe disse, você foi a pessoa mais importante e eu espero, com toda a minha sinceridade, que continue sendo.

Volta.

Por Srta. Monteiro

segunda-feira, agosto 03, 2009

21h59, 3 de agosto, uma segunda feira qualquer.

Sentia-se dividida numa gangorra. Parte dela estava lá no alto, comemorando. Tão feliz que o sentimento de culpa se fazia presente ao olhar pra outra ponta da gangorra. E depois, ao observar por fora o que estava em cima e embaixo, parou pra analisar o quão traiçoeiro o destino é. Não que ela acredite muito nesse papo de destino, mas não deixa de acreditar também. Dificilmente para pra pensar nisso. Dificilmente achará uma resposta que lhe convença. Portanto, sempre deixou estar.

Justo agora que ela tinha achado algo/alguém pra se completar? Justo agora que se sentia apta pra completar algo/alguém? Cobrou o destino sua vida inteira por isso. Embora tenha alguns empecilhos, nada tão relevante a ponto de tirá-la da ponta alta da gangorra. Não custava à outra parte continuar do jeito que estava, sem oscilar e cair. Entrar em equilíbrio, talvez. Garanto que não seria uma má idéia. E um shot de felicidade plena faz bem, às vezes.

Deparou-se com a quantidade de fatos que tinha de relatar. Possuía mesmo a necessidade de fazê-lo. Por mais lânguido que pareça/seja, ela não sabia quando partiria e sentiria imensa gratidão para com os que lessem e contassem suas histórias. Deixaria um rastro de lembrança em vida e após. Ou não só nesse caso, vai que lhe falte a memória. (...) Lembrara de uma parte de um filme que assistiu por várias vezes: Diário de uma paixão, que dizia, bem no finzinho: “The history of our lives by Allison Hamilton Calhoren. To my love, Noah. Read this to me, and I’ll come back to you”. A personagem manteve um diário durante o ápice de sua paixão, relatando tudo o que viveu com o amor de sua vida. Ela perde a memória e foi internada. Ele, são, vai morar com a Ally no hospital e lê para ela todos os dias uma parte do diário, fazendo assim, com que ela se lembre ás vezes de quem ele é e o quanto o ama. Muito mel com açúcar, eu sei. E ela também admite ser. Quiçá fosse a ponta baixa da gangorra que a fragilizou. Quiçá não.

Por enquanto, só.

Por Anita