terça-feira, junho 29, 2010

O show não pode parar

A sociedade se forma através de culturas híbridas e se encontra num estágio elevadíssimo de contaminação proveniente de um mundo imerso em imagem, mesclado de espetáculos de todas as suas origens. Fica clara, assim, a relação direta e inevitável com o sistema vigente, onde felicidade se resume a consumir, tornando a forma mais perversa de ser da sociedade do consumo.

Os acontecimentos retratados como espetáculos poderiam ser listados um a um. O mais recente é o da menina Isabella, o qual movimentou milhares de pessoas – por mais tempo que os demais – destaque vindo da mídia que se disfarça de imparcial e busca o foque de interesse do público. Resultando em todas as proporções presenciadas, desde todos os meios de comunicação de massa falando do mesmo assunto, até a comemoração de pessoas que viajam quilômetros à porta da delegacia a fim de profanarem os suspeitos, jogar pedras e acenar para as câmeras ali presentes ante a resposta do júri ao (já pré-condenado pela sociedade) casal Nardoni.

Com o circo já montado e os palhaços entretendo com afinco o seu público, outros mais assassinatos acontecem, também com crianças, a diferença está na atenção. Uns não chegam a um décimo da platéia, muito menos a um julgamento. E, sem as câmeras, a polícia já não trabalha de forma tão eficaz, advogados não compram ternos novos, a perícia não demonstra tanto profissionalismo e nem é gasto 50 vezes mais para resolver o caso.

E aí, então, é visto o povo se prostrando como seguidor do espetáculo. Esse próprio espetáculo descrito no dicionário como algo que prenda atenção, atrativo, algo a se contemplar e, até mesmo, a representação do ridículo. Evidentemente que um bom espetáculo seguido de um drama mais trágico – ainda que a contemplação termine quando o próximo anúncio no intervalo da novela das 8h começar – gera muito mais repercussão. Ou seja, os políticos continuam em sua corrupção, assassinatos acontecem, estupros, leis sem sentido sendo aprovadas e muitas outras barbáries. Mas, sem a presença das câmeras, não teria por que de tanto esforço, não é mesmo?

Por Talita

terça-feira, junho 08, 2010

Dos amores que tive - Parte III

Daí então, o surto. 2009. Dois mil inove. O ano da perda, o ano da posse, o ano. Talvez, um dos anos mais conturbados que eu me lembre com refresco na memória.

O ano que eu mais precisei de um desvio, de um veneno, válvulas e mais válvulas de escape. E eu o fiz acontecer um pouco antes do fim de 2008. Com modéstia, mas foi com sucesso.

E como tudo tem um começo; esse se deu inicio no feriado de Corpus Christi em 2008, numa PoliONU – simulação da ONU, realizada na sede do Poliedro, em São José dos Campos. Tudo muito lindo: grupo estudado, empolgação em demasia para fazer bonito e representar legal a unidade do interior.

Eu, extremamente de gaiato naquele navio, rodeada de delegados querendo me exterminar com os olhos. O motivo, para mim, era pelo fato de eu estar estreando na situação, por não saber como funcionava, não saber como me portar e, simplesmente, travar na hora de abrir a boca pra qualquer pronunciamento. Pronúncias as quais só se consolidaram de bobagens. Meu Deus, que amadorismo. E pra quê travar daquela forma se tinha tão boa desenvoltura longe daquele lugar? Fora essa “viagem”, outro motivo aparente pra olhares fulminantes, agora com maior sentido, seria pela situação que eu estava – novamente de gaiato – na simulação propriamente dita. Veja só: representava Coreia do Norte. É. Coreia do Norte num comitê de desarmamento e segurança internacional, onde direcionavam os debates para o tratado de não proliferação de armas nucleares.

No meio de toda essa confusão, timidez e muitos “eticéteras”, me aparece o representante da Bolívia. Um moreninho, que se achava alto, da boca grande e com uma voz engraçada. Teve a cara de pau de me seguir numa de minhas saídas da sala e me propor um acordo. Acordo que não consenti de fato, visto que fui completamente induzida a um aperto de mão concordando que eu falaria alguma coisa nas próximas sessões. Já que só podia se comunicar através de bilhetes, ele se tornou meu refúgio no papel, onde eu o atormentava com todos os meus desejos de fim ao feriado.

Numa oportunidade, ficou conversando comigo no intervalo de uma sessão e outra, noutra, me chamou pra algo que teria à noite com o pessoal do hotel. Não aceitei por achar que era mais um dos que estavam me xavecando. Não sou convencida. Não sou tão convencida. Mas talvez tenha sido ao achar que o garoto estava obrigatoriamente interessado em mim. Ok. Fim da simulação. Lista de MSN entre os participantes. Apesar de tudo, ele foi simpático, prestativo e ouviu meus desesperos. O adicionei, claro.

Uma semana de pneumonia e sem internet. Pós isso, começamos a nos falar cada vez mais regularmente e num momento de maior intimidade, perguntei-lhe sobre as intenções durante a simulação. E pro meu espanto, não foi nada do que eu suspeitei. Como assim? Me enganei a esse ponto com as boas ações e o altruísmo do garoto? Agora, João Pedro, não mais “Bolívia”. Era quase questão de honra reverter a situação. Mentira, nem era tão assim. Mesmo porque, soube de uma moça, uma ex; ora ex, ora atual; que estava ainda no caminho. Assim como contei do meu. Foi uma amizade. Não vou negar. Quase pura.

Eu até hoje não sei como foi a mudança de amizade pra qualquer outra coisa a mais que isso. As horas de conversa aumentaram desproporcionalmente. E com mais doses de intimidade, eu já estava ligando a fim de deixar o contato mais próximo.

Num momento ou outro, eu já não me interessava por outros caras. Planos pra nos vermos eram mais comentados. Contando ainda com a dificuldade de ir e vir, deparei com a contagem regressiva. Um tempo exato pra fazer e acontecer tudo. Ele viajaria no meio de 2009. Intercâmbio. Ironia ou não: Alemanha como destino.