sexta-feira, janeiro 28, 2011

De Trindade, para nós.

Às vezes a gente descobre que aquele ditado dizendo que “tudo tem um porquê” possa fazer sentido em algum momento da vida. Não é todo dia que se canta para alguém “eu voltei e agora é pra ficar”. Ênfase ao “ficar”, por favor. Também não acontece todo ano de sua melhor amiga passar para a segunda fase do vestibular. Ainda mais quando não se contava mesmo com isso e, portanto, planejou-se durante a metade de um ano inteiro a viagem das férias.

Os planos, então, eram “ficar preta” no sol das 14h, caminhar e, de quebra, perder uns quilinhos desfrutando de uma dieta saudável. “Ficar preta” não deu lá muito certo. Caminhar e perder uns quilinhos foi até considerável, embora as caminhadas não tenham sido de manhã e a dieta ter passado longe de saudável.

Umas economias às escuras, uns problemas para esquecer e o melhor réveillon em 19 anos. Além de melhor, o mais diferente e creio que, nesse quesito, insuperável. Inesquecível, eu tenho certeza. Em algum lugar do mundo deve haver quem diga que virar o ano com a ex do seu ex é natural. Em TRINDADE não.

A proposta foi feita. A única coisa que eu pensei, digna de um possível questionamento, foi “porque não?”. Querendo ou não, eu tinha nada de interessante para as férias. A decisão foi repentina, a viagem também. Jaú – SP capital, SP capital – Taubaté. Depois das cervejas e eu quase cair da escada ao tentar pegar uma mala em cima do guardarroupa (dá-lhe, nova ortografia), a noite se selou. No dia seguinte, o saldo se fez com duas vodkas, um pacote de bebezinho e outro de bisnaguinha, sendo os dois últimos esquecidos no carro para sempre.

E foi nessa viagem – considere todos os sentidos – em que eu encontrei seis crianças (contando comigo) dispostas a cantar desde Sílvio Santos até sertanejo de raiz no primeiro dia de Ubatuba. Já em Trindade, me lembrei que o sol queima. Soube que quando se é mulher e sem dinheiro, dá pra ganhar três cervejas (e/ou mais) do barman. Dormir em duas na praia durante o dia é, também, divertido. Batatas fritas frias com ketchup a gente também come. É possível, inclusive, conseguir um copo cheio (só) de vodka por R$2 reais. Descobri que é lá onde as siliconadas se reúnem e que o mar é hilariante, assim como o gás. Conhecer mineiros, cariocas e paulistanos é uma arte, ainda mais quando um deles já foi até sua casa. Roncar na praia com o sol quase amanhecendo não é legal, ao contrário de ver luzes e achar que são carros, ou discos voadores, não tenho certeza. Aprendi a fazer do peso uma canção e que boas gargalhadas transformam as malas, a barraca, o colchão e alguma outra sacola mais leves, mesmo que seus ombros mostrem o oposto. Soube que no meio da areia, o sonho de consumo mesmo é uma bacia com água e uma lanterna, e que desfilar fazendo propaganda do papel higiênico pela avenida principal não é tão ruim assim. Ah, e é praxe: vocalistas e guitarristas bonitos gostam de fazer cara de prazer enquanto exercem a função. Aos mais desavisados e como lembrete para uma próxima Trindade: centrifugar com o mar não é sempre uma boa idéia. Principalmente em fim de tarde com chuva.

Garçons, acredite, têm uma auto-estima elevadíssima. Não há um que não olhe quando uma voz feminina ecoa pelo estabelecimento dizendo “ô, lindo”, até aqueles com namoradas trabalhando no mesmo lugar. Olhinhos baixos e sorriso fácil são engraçadíssimos no meio da madrugada. Acampar pela primeira vez em só duas mulheres causa extremo orgulho na hora de montar a barraca (sem ironia!). E desmontá-la embaixo de chuva também. Areia se reproduz por fragmentação no interior de barracas, eu juro. Colchão inflável (com areia) e edredon de solteiro é o exemplo de conforto para se dormir em duas. Zíper do vestido também falha e não ta nem aí se é ano novo ou não. Pão com queijo quente e ketchup da amiga pode ser a melhor refeição da sua vida pós a virada de ano e um sol que não nasceu. “J” não é de um nome em específico. Pode ser de Júlia, ou de Jesus. Subir no palco não é pra qualquer um, pedir “Me lambe” também não. Perder a chave no pescoço é só mais um jeito de adquirir adrenalina, mas é porque a gente gosta desse jeito.

Acho que vou terminando minhas memórias de Trindade assim. Não me esquecendo, obviamente, do “carpe diem”, da “ô, Madalena”, dos lindos, do lindo da arquitetura, da vodka que voltou cheia e da outra que não me lembro como bebi, o “chinelo-restart”, a panqueca que era pra ser crepe, do Luan com atitude, da Carolina com mais ainda, o copo quebrado, a pizza esquecida e de todos os meus dias com você.

Por Talita, de férias

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Do povo, à Justiça

Temos a justiça se consolidando e se teorizando (sem dar relevância a todos os processos burocráticos) em meio, e como início, aos princípios éticos propostos pela sociedade, perante o decidido padrão e estipulado como sendo. Essa uniformização de comportamentos “admissíveis” serve de objeto a fim de que, na esfera teórica, se construam as estruturas normativas que valerão como leis e regerão o arranjo social. Dessa forma, a justiça emana do povo e nele é exercida.

Clamor público e a influência ou participação social ainda é muito discutido. Porém, antes de diferenciá-los, vale o apêndice de que o clamor público pode, em muitos casos, ter origem de uma participação social de repercussão, podendo ter ou não bom êxito. O clamor público possui a capacidade de ser um instrumento de manipulação de massa pelo fato de voltar os olhos da sociedade para um ponto de vista que foi exposto. É transitável, nessa situação, que se pratique uma ação jurídica (criando ou mudando uma lei) para que assim satisfaça os indivíduos “inconformados”, o que não traz alterações substanciais para o sistema penal. Tem-se como exemplo a Lei Maria da Penha tratando da articulação de uma lei já existente e sendo exposta com um “novo” valor por meio de outras palavras.

O clamor público acaba se incorporando por intermédio dos veículos de comunicação. Nocivo ou não para a justiça, jamais vai deixar de existir ou deixar de exercer influência. Merece relevância, portanto, a postura de maior eficácia que a participação social deve adotar. E isso não depende só de uma reformulação no sistema político (tornando-se mais inteligível à sua casta inferior – titulares do poder), mas sim da persistência do povo em questionar, de maneira certeira e incômoda aos respectivos “responsáveis” diante das inúmeras carências do Estado. Fica claro que não se pode esperar da imprensa que se crie uma “revolta” contando com que se produza mídia e notícia escarnecendo a valoração do justo. Saramago, através do personagem, pelo mais eficiente instrumento de difusão de idéia – a escrita, não obstante a literatura – exaltou a “morte da justiça”. Eis a hora certa de levantar questão sobre a legitimidade do poder, a república e/ou a vangloriosa democracia?


Por Talita