De uma forma ou de outra se punha a escrever, dessa vez mais cedo. E vale a ressalva: bem mais cedo. Lembrou-se de que essa noite dormiu bem e que a possível desculpa, provavelmente não repercutiria da forma como poderia esperar. Se bem que, pensando com cautela, até daria certo. As angiospermas lhe causavam um sono desigual. Isso porque se encontrava na primeira aula ainda.
Nutria a empolgação para as aulas de violão. Até viu de comprar um com o seu ex-professor de Biologia, que mantém contato desde o antigo colégio por mensagens instantâneas. Foi descartando a idéia das aulas de dança. O interesse era por dança de salão. Inicialmente, precisaria de um parceiro (cheirou o antebraço), pós achar um parceiro, teria que achar um bom lugar; sem contar que cansa muito mais. Sem contar, novamente, as opiniões (ou “a” opinião) alheias que recebera.
“8h36, flor completa, 42, 17” Ouviu por várias vezes que o tempo voa, apesar de não ser muito a favor desse pensamento, preferia tomar uma dose de otimismo, pelo menos por um dia.
Sustentava um ritual de dar “toquinhos” em celulares à longa distância. Ou um celular apenas.
Uma (super) pausa para pensar, aproveitar a aula de física com o professor que gostava. Ouvir conselhos ou histórias da faculdade que era quase inevitável ele contar.
Parou tudo. Focou em algum ponto fixo. E digeriu o medo. Por mais que não fizesse questão de manter o controle da situação (já havia deixado esse controle na mão de outra pessoa há muito tempo e, talvez, seja exatamente isso que a afligia: tomarem uma decisão que ela discorda e que, aí sim, seria algo egoísta de fato). Ensaiou algumas coisas pra dizer no último telefonema, mas se sentiu inviabilizada por algum motivo que não lembrava – ou não fazia muita questão de lembrar. Ela não entendia como alguém podia se considerar egoísta diante de uma segunda pessoa que se colocou ciente dos acontecimentos o tempo inteiro e embora tenha tido esse conhecimento, continuou martelando na mesma tecla apesar de todos os fatos que poderiam convergir contra.
Recebeu um SMS que a fez refletir por horas. Só resolveu verbalizar há pouco tempo, por ter estabelecido uma idéia para o assunto. Esteve por alguns momentos, exageradamente, impulsionada a responder. Mas percebeu que não era tempo.
Estava – quase – ansiosa pela mudança no cabelo que planejava. Corte. Cor. Cheiro. Coragem. Comemorando (ou não) de uma forma peculiar o inicio/final do novo ciclo. Talvez, sem os tons mais claros se tornasse mais séria. Talvez combinasse com seu estado futuro. Talvez não.
Ouvia com acidez as piadas baratas do professor comunista. Planejava o dia. Via o amarrar desajeitado dos cabelos negros e grossos da colega da frente.
Tinha pouco tempo.
Novamente, o assunto de tomarem uma decisão por ela a assustava.
“Ainda que eu falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.”
Tentava dobrar o papel.
(...)
Reabriu. Anotou a data. Redobrou.
“17 de junho de 2009 – metade do ano.”
Optou, sem hesitar, por ser uma metáfora. E assim seguiu.
Por Anita.