16 de junho de 2009, metade do ano. Terça feira de manhã.
“Muito curto, não gostei.” Dizia ela a um ouvinte inexistente sobre o livro que leu no fim de semana.
Era visível a nostalgia tomando conta de seu estado aparente. O motivo nem mesmo ela saberia. O tempo chuvoso, cinza e frio talvez contribuísse com alguma coisa. A vontade era de dormir, em nenhum lugar especial ou com alguém especial de fato. Só queria dormir. Mais facilidade para esquecer algumas coisas, ou lembrar-se de outras, depende o humor e o quão disposta estava. Uma contagem regressiva se mantinha na agenda.
Reparava no salto do tênis e no bolso do jeans do professor. Percebia o quanto aquela voz, que parecia mais longe que o normal, era indicado para insônia. Ouvia algumas conversas, analisava outras. Retirava o resto de esmalte que sobrava na unha. Olhava freqüentemente no relógio, buscando um acelerar espontâneo dos ponteiros. Planejava um cachorro quente com guaraná no próximo intervalo. Imaginava como estava o clima em Campos, enquanto trilhava as músicas da manhã; Era dos Rolling Stones, não lembrava o nome, tinha em mente só dois ou três versos do refrão.
Um gosto de cappuccino ice (bebida a qual saboreava com mais freqüência no inicio do ano retrasado no café que adorava visitar) invadiu sua boca com perfeição, enquanto remetia lembranças do comentário entre parênteses: “como era tudo muito diferente...”.
Lembrara da redação sobre a água que estava pendente e algumas outras que não havia buscado o tema ainda. Acabava de escolher outra música para acompanhá-la durante a manhã, música a qual se sustentava um tanto quanto pertinente já fazia um tempo: James Morrison – You Give Me Something. E, em menos de 25 minutos, já havia trocado: Leoni – Fotografia. Inclusive, lembrou-se do presente que recebeu no feriado prolongado, para ser mais especifico e surtir alguma explicação para um possível leitor, ganhou um DVD no dia dos namorados: Leoni – Ao Vivo. “Chegaram as tardes de sol a pino...”.
Sentia falta de algo que a acompanhara há 6 anos no anelar direito. Procurava algum outro assunto para desvincular-se dos últimos dias. Não queria lembrar. Racionalmente, não lhe fazia bem.
Seno, cosseno ao quadrado tentavam invadir sua mente a fim de alguma atenção especial. Estava quase se encorajando para tirar o agasalho, mas não queria chamar qualquer atenção ao se movimentar. Encontrava-se estranhamente séria – era estranho até para ela mesma. Tentava imaginar como seria o mês de agosto, quase empolgada por algumas aulas de dança ou aulas de violão. Ficava encantada com a idéia de ir “dormir” na casa das amigas e ficando cantando até quando calhasse ou dormisse sob o violão.
Parava alguns breves momentos para copiar a correção da prova de matemática – matéria pedra/montanha no caminho. A nota nunca lhe era surpresa, já estava acostumada a esperar pelo pior. Copo (sempre) meio vazio. “Pelo menos meu tombo não é tão grande, caso eu esperasse por muito mais.”
Sentia-se como há uns 9 meses atrás: vazia. Desacreditando aos poucos. Não, leitor, ela não tinha deixado de se apaixonar diariamente, era único e exclusivo de hoje, dessa manhã. Embora acreditasse não ter desapaixonado, não sabia quanto tempo levaria para voltar ao “normal”. Por um tempo, não conseguia pensar em nada viável para por no papel. Balançar a perna era quase inevitável e irritante.
Possuía um expresso medo (medo ou orgulho?) de reler o que estava escrevendo. Por mais que fosse preciso para acertar erros de concordância, sentido, grafia. Talvez não tivesse coragem o suficiente. Moribunda.
Por Anita.