Olha, já pensei em ser muitas coisas. Cogitei ser cabeleireira, quando eu ganhei aquela boneca que só tem a cabeça, um cabelão louro e um kit de maquiagem. Astronauta, quando eu soube que pisaram na Lua. Veterinária, quando a Susi – uma cachorrinha que eu ganhei nos meus 3 anos –chegou. Ginecologista, quando eu fiquei sabendo que poderia fazer parto. Pensei em viver de música, quando comecei a aprender meu primeiro instrumento. Fazer qualquer coisa e morar nos Estados Unidos, assim que eu entrei na aulinha de inglês. Pensei em ser modelo, mas aí me olhei direito no espelho e vi que eu era baixa e gordinha demais. Depois, pensei em ser modelo fotográfica, mas aí me olhei direito no espelho de novo e vi que meu rosto era redondo demais e que não tinha nada de diferente. Achava que seria legal ser estilista, ao desenhar minhas modelos com roupas “diferentes” de cintura finíssima, peito grande e quadril largo. Talvez fazer da natação uma profissão seria divertido também, aí então comecei a fazer aula. Desisti. Eu era muito gordinha e usava um maiô preto e branco e quando íamos brincar que o tubarão ia atrás dos peixinhos, sempre me encarregavam de ser a baleia – eu não achava muito interessante. Professora de alguma coisa já me veio à cabeça, quer coisa mais bonita que ensinar? Entretanto me lembrei de como os coleguinhas de classe falavam mal das professoras. Desisti também. Bombeiro, mas tinha medo de morrer queimada. Polícia Militar, mas tinha medo de morrer com tiro, ou esfaqueada, ou sei lá. Médica de alguma coisa, mas eu morria (aliás, morro) de medo de agulha/sangue/veia. Quis ser engenheira, quando acompanhei de perto a construção da casa de uma amiga. Escritora, mas só quando eu escrevia meus textos de três páginas e achava que estava estupendo. Viver de arte, quando pintei meu primeiro quadro. Artes Cênicas, depois de ser aplaudida na minha primeira peça na escola (Rei Arthur, eu era a bruxa principal). Cantora, depois de assistir àquelas criancinhas indo ao Raul Gil. Relações Internacionais, quando eu soube do que se tratava. No auge da minha 4ª série, ao ver a tal da Suzane von Richthofen sendo acusada de duplo homicídio triplamente qualificado, pensei em ser juíza. E desde então, mantive a opinião.
A partir disso, fui levando em consideração a idéia, dando ênfase ao que eu ia bem na escola. Destacava-me claramente em Humanas. Pesquisei sobre a profissão, li alguns livros e comecei a admirar de verdade a possibilidade de ser uma cidadã investida de autoridade pública com o poder para exercer a atividade jurisdicional.
Contudo, de uns tempos pra cá, comecei a traçar um estilo das pessoas que passam no vestibular de Direito. Hei de admitir, não são lá muito parecidos comigo. Inteligentes demais, talvez. Embora eu tenha enfraquecido, não desisti. Muitos acasos me levam a não desistir. Quiçá eu ande precisando de umas injeções de ânimo e determinação. Enquanto isso não acontece, uma futura arquiteta, quem sabe. Psicologia deve ser legal. Jornalismo também. E Fisioterapia? Gastronomia é atraente também, imagina?
Por Talita