segunda-feira, agosto 24, 2009

A fim de inovar? Mantenha!

E aqui estamos: inseridos até a cabeça no nosso mundo contemporâneo, o qual fez por merecer, talvez único e exclusivamente, o rótulo de “Sociedade Clichê”. Essa palavrinha tão gostosa de falar provinda do belíssimo francês, palavra a qual me arrepia a espinha – os que estão à minha volta, sabem o quão terror ela me provoca. Para marcarmos de fato o início dessa conversa, façamos a análise de que não existimos, não somos; Apenas representamos. Uma concluída representação do que já foi feito, do que já foi vivido, à sombra do que já foi bom, às sombras do vanguardismo, tão somente um clichê, não? Acredito que seja comum, tanto pra você quanto pra mim, ouvir por aí que somos inovadores. Cada vez mais no topo da tecnologia. E ainda tem gente que bate palma pra isso tudo – e assim, como venho aprendendo nas minhas deliciosas aulas de Sociologia, eu não me excluo.

Hoje, a diferenciação é a moda vintage. Aquela, sabe? Derivada dos séculos passados. A maravilhosa Wikipédia conceitua: “Moda retrógrada. Uma recuperação de estilos dos anos 20, 30, 40, 50 e 60”. Será mesmo uma recuperação? Ou “panela velha é que faz comida boa”? Sinceramente, eu apostaria em que tudo isso se trata de uma cópia gigantesca. Que tal ser a aceitação de algo que passou foi realmente bom e estava esquecido? Os botões, as listras, os óculos, os tênis, as batas, os vestidos, as combinações de cores, o xadrez! Talvez o tal do vintage tenha deixado de ser moda “antiga” e ocupado o lugar a fim de apreciar o “velho”, não obstante a nossa incapacidade de criar.

Para facilitar: ou apreciamos o lixo atual – com suas raras exceções, ou vivemos intensamente em nossa rodinha clichê. Estamos num ciclo vicioso, numa mesmice. Na novela, o mocinho sempre passa por altos e baixos e, no fim, vive feliz para sempre com o seu amor. Aos olhos da nossa belíssima justiça, os poderosos são inocentes, os menores infratores são somente crianças. O Estado é culpado, o presidente também. Sem contar na superlotação das cadeias. No horário eleitoral, ou nos submetemos ao “Caro povo brasileiro” ou desligamos a TV. E aí, não muitos meses depois, ficamos perplexos diante de frases tais como “esse dinheiro não é meu”, ou nos contentamos com um “boa noite e até amanhã” sem saber o real destino dos questionados. No outro dia, a Fátima virá com mais “notícias” e a tal impunidade, a qual deveria ser lembrada, cai no esquecimento depois do próximo anúncio. Mas os clichês não. Ah, os clichês... Esses continuam com louvor: “O que acaba com o Brasil é a corrupção”. Essas são as tendências: fazer da rotina um jargão. Tornar da contemporaneidade o senso comum da vida. Fazemos isso porque somos parte do “mundo dos espertos”. Pulamos na merda - desconsidere a linguagem, por favor - e estamos nadando de braçada nela. E pouco importa se iremos sair dela ou não, cabe a nós nos mantermos e aproveitar o momento. “Viver cada dia como se fosse o último”, até o Carpe Diem (aquele que diz para colhermos o dia e aproveitarmos o momento) que dispunha de várias interpretações caiu nessa lástima. E assim, aceitamos as condições por total conveniência ou dificuldade no raciocínio.

Contudo, termino como comecei. Afinal, “brasileiro não desiste nunca!” e viveremos todos na incumbência de por um ponto final em nossos dias logo após a um reluzente “felizes para sempre”.

Por Talita