A porta tornou a abrir-se. Um guarda entrou, trazendo algo feito de arame, uma caixa, ou cesta. Colocou-o na mesa distante. Por causa da posição ocupada por O’Brien, Winston não pôde enxergar bem o que era.
- A pior coisa do mundo – disse O’Brien – varia de indivíduo para indivíduo. Pode ser o sepultamento vivo, a morte pelo fogo, afogamento, empalamento, ou cinqüenta outras mortes. Casos há em que é algo trivial, nem ao menos mortífero.
Afastou-se um pouco para o lado, de modo que Winston pudesse ver melhor o que estava sobre a mesa. Era uma gaiola de arame, retangular, com uma alça em cima. Fixado na frente havia um objeto que parecia uma máscara de esgrima, com o lado côncavo para fora. Embora estivesse a três ou quatro metros de distância, Winston pôde ver que a gaiola era dividida longitudinalmente em dois compartimentos, e que em cada uma havia um animal. Eram ratazanas.
- No teu caso – disse O’Brien –, a pior coisa do mundo são ratos.
(...) O’Brien aproximou a gaiola. Estava a menos de um metro do rosto de Winston.
- Apertei a primeira alavanca – disse O’Brien. – Compreendes a construção dessa gaiola. A máscara adapta-se à tua cabeça, sem deixar saída. Quando eu apertar esta outra alavanca, a porta da gaiola correrá. Os monstros famintos saltarão por ela como balas. Já viste um rato pular no ar? Às vezes atacam primeiro os olhos. Às vezes abrem caminho pelas bochechas e devoram a língua.
(...) Tarde demais, tarde demais talvez. Mas compreendera de repente que no mundo inteiro só havia uma pessoa a quem transferir castigo – um corpo que podia colocar diante dos ratos. E pôs-se a berrar freneticamente, repetidamente:
- Faze isso com Júlia! Faze isso com Júlia! Comigo não! Júlia! Não me importa o que faças a ela. Arranca-lhe a cara, desnuda-lhe os ossos. Não comigo! Com Júlia! Comigo não!”
1984, cap. 22. George Orwell
E em sua sala 101, o que haveria?
Por Talita