Estava quase idêntica a imagem que tinha de escritoras quando pequena: cabelos presos num coquinho, uma caneca de chocolate quente saindo fumaça, uma blusona com calça de moletom, meia com chinela-de-vó, olheira. Mesa bagunçada, papéis rabiscados, canetas perdidas. Música ao fundo no computador cheio de página de pesquisa aberta. Faltavam-lhe os óculos. Mil e uma idéias. Embora fosse impossível colocá-las todas num papel visando algum nexo. Não lhe restava nada a fazer. Ninguém com relevância para passar o tempo. Nenhum site que lhe prenda a atenção. O sono disse que demoraria a chegar.
Sentia suas mãos atadas num nó cego. 8 horas – ou 5, caso tivesse um carro, enfim – mantinham-lhe longe do objeto de desejo. Nada viável que possa fazer. Pegar um ônibus com destino a Capital Universitária do Vale com o cartão de crédito que a mãe lhe liberava às vezes? Talvez não estivesse pronta pro esporro da volta. Ela não disse que melhoraria algo e que faria algo realmente bom, entretanto só gostaria de estar lá. Acompanhar.
Desde pequena, nunca gostou de estar nos bastidores. Ainda que soubesse que a presença desses que ficavam observando dos bastidores era imprescindível. Gostou sempre de fazer uma “participaçãozinha” especial. Ou pegar o papel principal, quem sabe. Não que ela adorasse se aparecer, todavia, venerava cultivar aquele sentimento de “olha, eu ajudei nisso... e deu certo!”.
Fazer mais que entender a flutuação de humor alheia. Ou dar aquele apoio moral. Nem que estivesse só por um abraço. Ou um “vai ficar tudo bem” olhando bem dentro dos olhos. Cantarolar baixinho algo que gostassem no final do dia durante um carinho no cabelo. Só para tentar confortar.
Tom Jobim e Elis Regina embalavam seus pensamentos vagos.
Por Anita