terça-feira, novembro 24, 2009

Para mim;

Nasci em Jaú, dia 10 de janeiro, em 1992. Uma sexta feira, às 5h30 pós meio dia.

“Acho que não sei quem sou, só sei do que eu não gosto.” Tenho me afirmado a partir disso. Tenho permitido não me cobrar. Passei a me entender depois que deixei de querer ser entendida. Minhas opiniões não são flexíveis. Mas mudam, conforme a minha mudança. Eu sou uma pessoa absolutamente medíocre, assim como todas as pessoas normais desse mundo. Muitíssimo encabulada e talvez seja o que me diferencia da família. Sou hipócrita, e duvido que você não seja.

Sou fruto de um casal jovem. Andrea e Marcos. Casaram-se jovens. Ela com 15 e ele com 19. Minha mãe foi uma mulher linda. Baixa, olhos castanhos esverdeados, franja nos cabelos lisos que foram encaracolando com o tempo, nariz arrebitado e um sorriso inocente, infantil. Agora, nos seus 35, eu já contemplo algumas ruguinhas, o nariz menos arrebitado, a boca mais murchinha. O sorriso, não sei de quanto tempo pra cá, passou de inocente para triste. Ela é como boa parte das mães deveriam ser; fala palavrão, é risonha, brinca, confidencia, é dedicadíssima, cozinha muito bem e tem um apreço enorme pela casa. Já meu pai, é tão branco que chega a ser vermelho, ele é ruivo. Não muito alto, também. Agora, se eu te disser que eu não o conheço, vai achar que é mentira minha. Não conheço por que ele quase não se articula. “Entra mudo e sai calado”, assim eu costumava me referir a ele quando pequena. Ele, infelizmente ou não, não participou da minha infância com momentos positivos, continua mantendo esse ritual de me deixar más lembranças em sua presença. Eu acho que gosto mais dele por telefone, quando eu o atendo por acaso, normalmente quando não reconheço o número de telefone. Pode parecer incrível indiferença da minha parte não atendê-lo, mas a conversa não é comigo, a não ser quando ele deseja algo que só eu entendo. Ainda que eu relute acreditar, dizem que eu me pareço muito com ele. Quiçá seja por isso que nos atritamos tanto. É a minha teoria das peças de um quebra-cabeça. Precisam ser, necessariamente, diferentes pra se encaixarem, caso contrário, elas só se atritam e isso, muitas vezes, não é lá muito interessante.

Já ouvi dizer que sou simples, mas trabalhosa. Ouvi também que sou um cubo mágico sem resolução. Admito o meu orgulho, o meu “calculismo”, as minhas análises constantes, meus atos inescrupulosos, meu excesso de realismo, o qual acaba por ser pessimista, sou cabeça-dura, extremista. Admito minha complicação também, minhas fases, minhas incertezas, minha instabilidade, meu mau humor, minha chatice, minha obscuridade, meu egoísmo, egocentrismo, narcisismo. Não me esquecendo do sarcasmo, nem da ironia. Tenho certos problemas com a sutileza. Ela não tem me mandado lembranças já há algum tempo. Confesso que me acho um tanto previsível, mas me surpreenderam ao me chamar de “caixinha de surpresas”. Não sou indiferente, embora pareça ser. Eu penso demais, sou reservada demais. Tento me atentar aos detalhes. Afinal, não são eles que fazem a tal da diferença? Eu tento ser imparcial, não gosto de influenciar. Gosto de mandar, mas não gosto que me obedeçam. Prefiro o charme à beleza. Tenho minha velha opinião formada sobre tudo, ainda que eu me mantenha em metamorfose. Prefiro livro a uma bolsa. Apaixono-me por palavras. Permito-me apaixonar, ainda que eu não me entregue como eu deveria. Procuro ser qualitativa. Não sou intensa, tento me ponderar, me proteger (e que se danem as ênclises). Sou grossa, pessoas não sabem lidar com sinceridade sem a meiguice pra acompanhar. Não cobro entendimento alheio, não idealizo, sou até compreensível, me controlo, relativamente, bem.

Nunca acreditei em amizades verdadeiras. Acredito num sistema o qual consiste numa troca mútua de interesses. Sejam eles quais forem. Somos todos prostitutos. Promíscuos. Dificilmente mantenho amizades, sou exigente, e qualquer atitude que vá contra meus valores essenciais, eu vou me dissolvendo, me distanciando. Deve ser por isso que nunca tive melhores amigas. Por isso que não mantive alguém de fato. Pago psicóloga. Quando eu quero, eu quero. Até enjoar. Seja com comida, seja com pessoa, seja com música. Poucas foram as coisas que não enjoei. Portanto, aconselho que vá mudando junto comigo. Não me cobre a postura inicial. E não tente me entender, você não vai conseguir. Eu não me entendo.

Eu ando na minha melhor fase MPB. Tenho minhas crises existenciais. Admiro os pingos da chuva entrando pela minha janela. Li três vezes um mesmo livro, que me passou três sentidos diferentes. Em fases diferentes. E estou pra ler a quarta. Meu senso crítico é peculiar. Odeio clichê. Mas odiar o clichê é um clichê. Simpatizo com política. Não vou com a cara do Socialismo. Liberdade, para mim, não existe. E estamos cada vez mais alienados. Cada vez mais submersos. Religião é um caso sério. O Direito é lindo. E o errado também. Sinto de não ter ido a shows como o da Elis, da Cássia, do Cazuza, por enquanto.

Poucas pessoas me conhecem. E as que conhecem, sabem do “básico”. Não tem como saber muito daquilo que de permanente, só há a mudança. Eu estou tentando me conhecer. Não se precipite. Aos olhos do senso comum, sou o rostinho bonitinho que fala de maquiagem, dos porres que teve, quantos caras pegou e ouve Black Eyed Peas essa semana e, na próxima, o que estiver no Top 10. Só.

Talvez essa descrição tenha mais de “Talita”, a mais cética de mim, a mais pessimista, fato o qual serve de explicação para a quantidade de aspectos “negativos” aqui apresentados, ou não.

Por Elas