terça-feira, setembro 29, 2009

"A palavra "egoísta" pode parecer demasiado branda para se aplicar a casos tão extremos como o canibalismo, muito embora estes se ajustem muito bem à nossa definição. Talvez possamos sentir uma empatia mais direta com o conhecido comportamento covarde dos pinguins-imperadores na Antártida. Observou-se que eles permaneciam de pé à beira d'água, hesitantes antes de mergulhar, em virtude do perigo de serem devorados pelas focas. Bastava que um deles mergulhasse para que os demais soubessem se ali havia ou não uma foca. Mas, naturalmente, nenhum queria servir de cobaia, de modo que todos ficavam esperando e, às vezes, chegavam mesmo a tentar empurrar-se uns aos outros para dentro d'água."

O gene egoísta, pág. 44
Por Richard Dawkins

sexta-feira, setembro 25, 2009

A prisão de cada um

"Viver sem laços igualmente pode nos reter. Uma vida mundana, sem dependentes pra sustentar, o céu como limite: prisão também. Você se condena a passar o resto da vida sem experimentar a delícia de uma vida amorosa estável, o conforto de um endereço certo e a imortalidade alcançada através de um filho.

Se nem a estabilidade e a instabilidade nos tornam livres, aceitemos que poder escolher a própria prisão já é, em si, uma vitória. Nós é que decidimos quando seremos capturados e para onde seremos levados. É uma opção consciente. Não nos obrigaram a nada, não nos trancafiaram num sanatório ou num presídio real, entre quatro paredes. Nosso crime é estar vivo e nossa sentença é branda, visto que outros, ao cometerem o mesmo crime que nós - nascer - foram trancafiados em lugares chamados analfabetismo, miséria, exclusão. Brindemos: temos todos cela especial."


Por Martha Medeiros

domingo, setembro 13, 2009

Eu tô no veneno, eu tô sem astúcia. Questionando-me a todo tempo. Não considerando mais o presente como uma dádiva. Eu quero o meu futuro. Tô pagando pra ver meu futuro. Pouco me importando como vou chegar, desde que eu chegue. Estou em busca de atuar como figurante nas teses que envolvem o que somos, onde estamos e o porquê estamos fazendo. Como já disse Schopenhauer, simplesmente representar, sem causar muito alvoroço. Quero saber se vou me desvencilhar. Ou se vou acabar numa só veia. Se eu vou morrer cedo, como eu sempre achei, independente de como.

Quero saber qual o ópio que vou chamar de meu, se será você, se será eu, se serão meus frutos. Anseio por ver o mundo daqui uns anos. Ver a ciência se confirmando, ou o Apocalipse, plenamente dito. Ver a prévia do nosso “admirável mundo novo”. Nosso “1984”. Não que eu esteja a comemorar, mas não acredito que seja tão evitável assim. Se é que já não estamos na tal prévia; e que de tão entranhados que já nos posicionamos na aranha capital de Marx, não percebemos mais nada, devido à singular aptidão de granjear a falsa consciência. Quero ver se nosso “Brasil brasileiro” continuará com a tradição de golpes, iniciada lá em 1981 com o nosso querido Deodoro da Fonseca favorecendo dinheiro público a um amigo. Quero ver os Lulas que virão. Se ainda teremos gloriosos chefes de Estado alcoólatras aprovando Leis Secas, ou ainda, analfabetos aprovando Reformas Ortográficas, uma vez que a desculpa utilizada por aqueles que são aversos ao mérito e ao esforço é de que "a língua portuguesa é difícil", a decisão política foi simples: destruam a língua portuguesa, assim é mais fácil justificar o fracasso do ensino público, minado pela falta de dinheiro para melhores salários de professores e melhores infra-estruturas nas escolas. Dinheiro esse que vai para o pagamento de juros (mais alto do mundo) que sustenta o Real do Estado dos concursos públicos e cargos comissionados.

Quero ver também se manteremos o conceito de felicidade já formado (dois filhos, dois carros na garagem, carreira bem reconhecida e uma alta conta bancária). Ver se continuaremos a não “falar com estranhos” e nos contradizermos ao guiar toda nossa (pseudo) liberdade através do telefone móvel, cada vez menor, mais fino, mais rápido, mais prático, mais funcional, mais.

Por Talita

terça-feira, setembro 08, 2009

Sorrisos à parte, matéria por copiar. Não lhe era de extrema necessidade o fazer. Fome, ansiedade, celular, novidades, hipocrisia. Planos e todos os sonhos do mundo.

Maquinava incessantemente como seria o decorrer do ano que vem. Tanta coisa ela poderia mudar, tanta escolha para fazer. Uma mudança (pseudo) completa lhe faria especialmente bem. Novos ares. (...)

Havia se desconcentrado do texto conforme o andamento da aula de gramática. O professor parecia mais simpático depois de ter lhe entregue a nota. Mais sorrisinhos e sem enchê-la pra copiar a matéria. Sem contar na atenção especial perante as perguntas, por mais aleatórias que fossem. Desde derivação imprópria, até religião.

Apesar da irritação com a futilidade da conversa alheia, tentava se nutrir “sóbria” e bem humorada, vinha se mantendo assim por dias. Inabalável – ainda que estivesse acontecendo o que fosse. É o momento dela, e de mais um milhão. Mantenha-se.

O professor colocou um trecho de Chico Buarque na lousa – inevitável não lembrar-se dele. Devido ao sorriso, o professor perguntou-lhe se gostava e, ao olhar o que escrevia, se preferia estudar pela apostila. Ela, na verdade, não estudava essa disciplina, mas ele não precisava saber disso. Questionou-lhe também se pretendia escrever um livro. Ela respondeu um simples “porque não?”. Aconselho-lhe a criar um blog e ela, com um sorriso escancarado de vergonha, disse que já o fazia. Só não podia lhe passar o endereço, assim como ele havia pedido, visto que vários textos comentavam sobre sua rapidez exorbitante.

Por Anita
Não é só carne, mas também. Não é o arrepio que me provoca, nem o aguçar de todos os meus sentidos quando estou contigo. O problema está não só na sua pele, não só nas bobagens que me fala, nem o olhar que muitas vezes é incógnita, e que muitas outras vezes já deixou de ser. Não são só suas mãos, nem o seu cabelo, muito menos o seu sorriso retratando sua satisfação, ou suas bobeiras, ou suas “maldades”. Não são seus “braços, beijos e abraços, pele, barriga e seus laços”. Não é a espessura da sua boca, nem a nuca. Não é nem o que eu sinto, todo o carinho, todo o apreço. Não é a segurança, nem o prazer. Nem o planejar, nem toda a liberdade que me proporciona, nem todas as risadas, nem todas as piadas internas. Não é toda a idéia de “nosso”, nem o jeito que pega no meu cabelo. Não é nem todo o resto, mas também.

Por Srta. Monteiro

domingo, setembro 06, 2009

E aí, diante da imensidão do meu quarto, encontro-me aqui, reunindo todas as lembranças possíveis. Acabo de falar com você. Novas injeções para continuar. Perante de todos os acasos que ainda me encaminham a ti. Na tentativa constante de me policiar o suficiente para não desabar. Eu não tenho mais seus braços.

"- Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz!"

O Pequeno Príncipe, cap. XXI. Antoine de Saint-Exupéry

Por Srta. Monteiro

terça-feira, setembro 01, 2009

Geração prevista

Um salve às aulas de Gramática com o professor estupidamente rápido – ironia à parte.

Vejam só: primeiríssimo dia de setembro, mês 09. Passamos por nove meses numa velocidade surpreendente. Acho que até mais que o ano passado. Tudo bem, parece muito “frase feita”, mas...

Por mais relutante que nos mostramos ser, acredito que “ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais”. Ainda que tentemos ser diferentes, ainda que façamos revoluções sem causa, ainda que busquemos “melhorar” em alguns aspectos. Sempre – ou não – manteremos a velha essência já adquirida em outros invernos. E, talvez, seja como eu disse, realmente, mantemos a essência buscando aperfeiçoar os acabamentos que restaram. Somos o futuro provável da nação. A outra geração Coca-Cola.

Eu mesma, no limite dos meus jovens 17 anos, não gosto de “fazer acontecer” sabendo dessa idéia. Creio que exista algo dos meus formadores inerente a mim. E que, daqui uns anos, acredito que eu verei ocorrer o que ocorre com os demais: reflexos perto da perfeição de seus, ainda que pareçam infundados, heróis.

Pensando bem, é completamente compreensível. São os únicos espelhos que temos durante a formação. Até certo momento, nos vimos espremidos com os valores e ideais sendo inseridos pelos de casa. Por conseguinte, obtemos melhores conhecimentos no colégio. Refletimo-nos em nossos professores e colhemos aspectos de amigos, plantados por outros formadores e, ainda assim, aquela essência depositada anteriormente é sustentada.

Não vou mentir, tento me retirar desse ciclo conseguindo minha “falsa consciência” em outras prateleiras. Fazendo uso das minhas conversas de roda para expor minhas opiniões “díspares”. Hipocrisia? Talvez.

Por Talita