Por Talita
sexta-feira, setembro 24, 2010
Clarice
Sou tida como grossa, porque minha voz não é macia ao pedir algo. Sou pacata, porque não grito enquanto discuto algum assunto. Sou retrógrada, porque não ouço Justin Bieber e, sim, Raul Seixas. Não sou classe média porque não tenho aquela super-bolsa do macaquinho nomeado, só o estojo. Não sou inteligente, porque não sei lidar com números. Sou alternativa, porque gosto de discutir crises existenciais. Sou fútil porque faço as unhas periodicamente e me maquio para ir ao colégio. Sou mulher-macho porque não gosto de rosa. Sou fresca porque não como em qualquer lugar. Sou metida á intelectual porque tenho X palavras a mais no meu vocabulário. Sou puta por conversar com meninos. Sou chata por não rir das piadas infantis da turma do fundo direito. Sou gorda por não me exercitar frequentemente. Ignorante, por ser sincera. Intolerante, por não engolir mentiras. Sem coração por não manter relações insustentáveis. Mentirosa, por admitir que opiniões mudem. Egoísta e individualista por gostar mais de mim. Arrogante, por defender minhas teses. Orgulhosa, por não ficar me entregando por aí. Não sou ciumenta, por ser segura. Não sou atenciosa por não ser ciumenta. Sou moleque porque gosto de futebol. Preguiçosa, porque durmo na minha única tarde livre. Má filha por não ir à igreja e não me drogar – porque se eu me drogasse eu seria a “tadinha, ela tem problemas com drogas”. Sou revoltada por não ser hipócrita. Pessimista, por não estar de acordo com “acasos”. Sou teimosa por não concordar com você. Sou como você me vê.
quarta-feira, setembro 22, 2010
Setembrite
Chega setembro e você quase nem sabe mais o que está acontecendo. Essa, definitivamente, é a época mais cansada do ano. Terceiros colegiais e suas inscrições, cursinhos e suas desistências. Alguns nem assimilam mais todos aqueles símbolos no quadro – muito – negro: “raízes”, “x”, “números imaginários”, “V”, “F”.
A penúltima apostila está mais rabiscada que porta de banheiro público. No inicio, eram contas, moléculas, observações importantes. Hoje, pode ser o que quiser, desde desenhos, rabiscos sem sentido, “testes-de-caneta”, “sono”. Tudo isso por contemplarmos a “setembrite”. A partir dessa, a “vergonha na cara” desaparece e você começa a dormir com mais freqüência, e não é nem aquele sono especialmente matinal, típico de primeiras aulas; o problema consiste na primeira aula, na segunda, na anterior ao almoço – porque você está com fome –, na pós-almoço, porque comeu demais, na última, porque é a última, claro.
Os salgados da cantina já enjoaram e a tia, se for intrometida como a minha, entre um doce e outro, já começa a te dar sermão, estimular seu peso na consciência e a pressão (que quase não existe, bobagem minha).
E aí, em meio a tantas inscrições e ameaças sobre você não ser aprovado diante de todo aquele gasto, você até perde aquele coragem pra pedir as “carolinas” para o fim da tarde à sua mãe. Aliás, você quase não pede mais nada a ela.
O ato de acordar vira um ritual e segue os seguintes hábitos: na segunda, você acorda pensando na sexta, ou no sábado – caso suas aulas se estendam pelos seis dias. A título de consolo, nos demais dias, se o sono prevalecer insuportável, você acorda pensando na última aula, ou ainda, naquele dia chave que acontece de sair mais cedo.
Com algumas pessoas acontece de saírem menos. Já aqueles que mantêm cursos, atividades físicas recém começadas, nem se lembram mais do que é isso. Hábitos religiosos só são nutridos caso precise de nota, ou esteja caminhando para o terceiro, ou mais, anos de cursinho.
Se por algum acaso houver movimentação livre no seu recinto educacional, inicia-se a busca por companhia pra tomar um café, bater um papo, ver a rua. Do contrário, idas ao banheiro acabam por ser mais comuns e demoradas. Vai lá, já anda mais devagar, pensando na vida, às vezes encontra um ou outro na mesma situação que você, pergunta do futebol pro inspetor, que de tão cansado também, nem se recorda de ser tão chato.
Mas, não tem o que fazer. De qualquer forma, é setembro.
A penúltima apostila está mais rabiscada que porta de banheiro público. No inicio, eram contas, moléculas, observações importantes. Hoje, pode ser o que quiser, desde desenhos, rabiscos sem sentido, “testes-de-caneta”, “sono”. Tudo isso por contemplarmos a “setembrite”. A partir dessa, a “vergonha na cara” desaparece e você começa a dormir com mais freqüência, e não é nem aquele sono especialmente matinal, típico de primeiras aulas; o problema consiste na primeira aula, na segunda, na anterior ao almoço – porque você está com fome –, na pós-almoço, porque comeu demais, na última, porque é a última, claro.
Os salgados da cantina já enjoaram e a tia, se for intrometida como a minha, entre um doce e outro, já começa a te dar sermão, estimular seu peso na consciência e a pressão (que quase não existe, bobagem minha).
E aí, em meio a tantas inscrições e ameaças sobre você não ser aprovado diante de todo aquele gasto, você até perde aquele coragem pra pedir as “carolinas” para o fim da tarde à sua mãe. Aliás, você quase não pede mais nada a ela.
O ato de acordar vira um ritual e segue os seguintes hábitos: na segunda, você acorda pensando na sexta, ou no sábado – caso suas aulas se estendam pelos seis dias. A título de consolo, nos demais dias, se o sono prevalecer insuportável, você acorda pensando na última aula, ou ainda, naquele dia chave que acontece de sair mais cedo.
Com algumas pessoas acontece de saírem menos. Já aqueles que mantêm cursos, atividades físicas recém começadas, nem se lembram mais do que é isso. Hábitos religiosos só são nutridos caso precise de nota, ou esteja caminhando para o terceiro, ou mais, anos de cursinho.
Se por algum acaso houver movimentação livre no seu recinto educacional, inicia-se a busca por companhia pra tomar um café, bater um papo, ver a rua. Do contrário, idas ao banheiro acabam por ser mais comuns e demoradas. Vai lá, já anda mais devagar, pensando na vida, às vezes encontra um ou outro na mesma situação que você, pergunta do futebol pro inspetor, que de tão cansado também, nem se recorda de ser tão chato.
Mas, não tem o que fazer. De qualquer forma, é setembro.
Por Talita
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